Crítica ao livro ‘Um Olhar de Evolução Política’, de Américo Canto. Por Edinaldo Alencar

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Crítica ao livro Um Olhar de Evolução Política, de Américo Canto. Por Edinaldo Alencar

Américo Canto, com sua formação em ciências sociais, mestre em ciência política pela Universidade Federal do Pará e diretor de pesquisas do Instituto Acertar, com sede em Belém, apresenta em Um Olhar de Evolução Política um retrato das disputas eleitorais em uma cidade amazônica, contextualizando o enredo na República Liberal (1946-1964).

A obra se destaca por evidenciar práticas políticas enraizadas desde a Primeira República (1889-1930), como o coronelismo, o clientelismo e o domínio oligárquico.

A narrativa acompanha a rivalidade entre o prefeito Laerte e o Dr. Afonso, trazendo à tona estratégias de manipulação eleitoral, alianças de conveniência e a influência de figuras como Aurélio, coordenador regional de política, e o governador Sarmento.

A inserção de personagens secundários, como Seu Tibúrcio, que desempenha um papel crucial no desfecho, além de figuras como Dona Filomena, Juarez e Padre José, reforça o entrelaçamento da política local com aspectos culturais e sociais da região.

Uma análise à luz de O Animal Social, de Elliot Aronson

Para uma leitura crítica da obra de Américo Canto, é interessante contrastá-la com as ideias de Elliot Aronson, um dos principais estudiosos da psicologia social, que, em O Animal Social, examina como fatores externos moldam o comportamento humano, incluindo o viés cognitivo, a influência social e a manipulação política.

No romance, percebe-se que os personagens, especialmente os eleitores, são constantemente influenciados por discursos políticos que exploram suas emoções, crenças e laços sociais, algo que Aronson identifica como uma característica fundamental dos processos de persuasão e conformidade.

As relações clientelistas e a manutenção do poder pelas elites políticas podem ser interpretadas à luz do conceito de dissonância cognitiva: os cidadãos muitas vezes aceitam e até justificam práticas abusivas ou corruptas para evitar o desconforto psicológico de confrontar uma realidade desfavorável.

Além disso, Um Olhar de Evolução Política ilustra o poder da identidade social na política, outro ponto central no pensamento de Aronson.

A divisão entre grupos políticos rivais na cidade amazônica não se dá apenas por interesses pragmáticos, mas também por laços emocionais e a necessidade humana de pertencimento. A influência do padre José, por exemplo, reforça a importância da religião como elemento de coesão e de legitimação do poder, o que está em sintonia com as análises de Aronson sobre o papel das instituições na conformidade social.

Conclusão

A obra de Américo Canto se sobressai ao retratar um período crucial da história política brasileira por meio de um microcosmo local, refletindo dinâmicas presentes em toda a República Liberal. A relação com O Animal Social permite uma leitura mais profunda do romance, destacando como fatores psicológicos sustentam práticas políticas tradicionais, tornando-as resilientes às mudanças institucionais.

Ao demonstrar como a política se constrói tanto pelo jogo de poder quanto pela percepção dos indivíduos que o sustentam, Um Olhar de Evolução Política se torna uma reflexão pertinente sobre os desafios da democracia no Brasil.


Edinaldo Alencar é professor de história.

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