O caboclo ximango Miguel na obra de Benedicto Monteiro. Por Wildson Queiroz

Publicado em por em Alenquer, Arte, Pará

O caboclo ximango Miguel na obra de Benedicto Monteiro. Por Wildson Queiroz
Aquele Um, uma das obras de Benedicto Monteiro em que Miguel Prazeres se faz presente

O ano de 2024 marca o centenário de nascimento do escritor alenquerense Benedicto Monteiro, que em sua obra literária abordou com maestria a saga do caboclo ximango Miguel dos Santos Prazeres, protagonista dos romances Verde Vagomundo, Minossauro, Terceira Margem, Aquele Um, Como se faz um guerrilheiro e Homem Rio.

Miguel é o típico caboclo amazônico que enfrenta todo tipo de desafio, “conhece as matas como bicho e as águas como peixe”.

Conhecido por suas incríveis proezas nos rios e nas matas, seja numa lida com o gado, montado em um cavalo no rodeio, nos puxiruns para cobrir barracão, na pesca de jacaré, na captura do pirarucu ou na caça de animais de mato, coletar juta nas várzeas, Miguel gostava mesmo era de correr terra, navegar pelos rios e conhecer novos lugares.

Em Verde Vagomundo encontramos a seguinte descrição sobre o protagonista, feita pelo personagem Norberto, secretário da prefeitura e estudioso da história do município:

“Miguel é o tipo perfeito do nosso caboclo. É o cruzamento do negro com o indígena. Tem a astúcia e a malícia do nativo, a desenvoltura e estatura do negro, feições do indígena e o comportamento do branco.”

Miguel é corajoso e destemido pois tem o corpo fechado para as coisas ruins, em sua juventude foi benzido por um dos antigos mestres do Quilombo Pacoval, onde também tomou uma dose do Contraveneno, famosa beberagem tradicional feita com ervas medicinais utilizada contra o veneno de cobras e animais peçonhentos.

A fórmula do contraveneno, cujo segredo é mantido em sigilo, é transmito oralmente apenas para os membros de uma determinada família.

O grande sonho de Miguel era ser pirotécnico da festa de Santo Antônio de Alenquer. Ver os fogos explodindo no céu na noite do dia 13 de junho, última noite da trezena religiosa. Miguel era fascinado pelo brilho e pelo estrondo dos foguetes. A festa de Santo Antônio e as enchentes marcavam e delimitavam o tempo e a rotina das pessoas.

Outra obra o escritor ximango que tem Miguel dos Santos Prazeres como personagem

Os foguetes eram sinônimo de alegria, festa e vitória. Quando os balateiros desciam dos altos rios após meses de trabalho, jogavam foguetes; quando os castanheiros recebiam o saldo da castanha, jogavam foguetes; quando os juteiros tiravam o saldo da juta, soltavam foguetes. Todas as festas eram anunciadas com fogos, missa, ladainha, serenata, puxirum, casamento, batizado e nascimento. Em todos os momentos de festa os fogos estavam presentes com seu estrondo e brilho.

Além do brilho e do som dos fogos, ser pirotécnico oficial da festa de Santo Antônio era considerado, um cargo de prestígio e importância, pois o profissional escolhido para esta missão tinha o nome gravado em letra de ouro no programa da festa e este detalhe fez surgir no âmago de Miguel esse grande desejo.

Miguel navegou pelos rios da Amazônia, coletou castanha-do-Pará no rio Curuá, embarcou em lanchas que conduziam gado para os marchantes de Manaus. Trabalhou nas embarcações que trocavam cachaça por com peixe e couro de jacaré. Subiu o Tapajós inúmeras vezes.

Foi balateiro nas matas de Almeirim. E descarregou muita mercadoria no Mercado do Ver-o-Peso em Belém. Correu terra, léguas e léguas, subiu e desceu rios.

Wildson Queiroz

É pedagogo, historiador e professor. Membro do IHGTap (Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós). Ex-secretário municipal de Cultura de Alenquer (PA), onde reside. Escreve regularmente no portal JC. Acesse o Instagram dele…

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