O legado da irracionalidade. Por Paulo Cidmil

Publicado em por em Pará

O legado da irracionalidade. Por Paulo Cidmil
Bolsonarista presentes no ato convocado pelo ex-presidente na avenida Paulista, no último domingo (25). Foto: Reprodução

No Brasil, os avanços das conquistas populares ocorrem mais como concessões das elites econômicas do que pela força da mobilização popular. Nunca houve coesa unidade da classe trabalhadora. Caminhamos aos sobressaltos, dois passos à frente e um atrás.

Há sempre um retrocesso no meio do caminho, um Estado Novo, um Jânio Quadros, uma Junta Militar, um José Sarney, um Fernando Collor, um Michel Temer, um Bolsonaro.

Nem a luta pela redemocratização conseguiu promover a unidade das forças políticas ditas de esquerda. Enquanto velhos trabalhistas retornavam ao país sob a liderança de Brizola, em São Paulo líderes sindicalista e setores progressistas da igreja católica promoviam o embrião do que seria o PT, de onde emergiu Lula. Mesmo subindo juntos em palanques pelas diretas, seguiram se adjetivando mutuamente. Ninguém sabota a esquerda, melhor do que a esquerda.

Enquanto as forças do capital, hegemônicas na estrutura do Estado, se unificam a partir de seus interesses e a despeito destes. Sua prioridade é deter o controle do Estado e a influência sobre suas instituições.

Após muitos sobressaltos e duas ditaduras no meio, quarenta e dois anos após João Goulart, a esquerda chega ao poder com o Partido dos Trabalhadores, não sem expurgar gente pelo ladrão, por querer caminhar mais ao centro, caminho que antes apontava Brizola e era tachado de caudilho e pelego por esse mesmo PT.

São inegáveis os avanços em direção a uma cidadania plena, que ainda não conquistamos para todos os brasileiros.

Iniciam políticas compensatórias e de acesso como ferramentas de combate à fome e desigualdade social. Há expansão dos empregos formais. Empregadas e empregados domésticos passam a ter direitos trabalhistas e piso salarial, as universidades federais e estaduais adotam sistema de cotas. A expansão do crédito viabiliza acesso a bens antes impensáveis as classes C, D e E.

Há o fortalecimento dos órgãos de controle ambiental, o reconhecimento de territórios indígenas e quilombolas. As atividades ilícitas de extração mineral, madeireira e a apropriação de terras públicas passam a ter maior fiscalização e controle.

Políticas que atiçam um sentimento mesquinho em parte da alta classe média, a primeira a acusar o golpe. Quando perdem mão de obra abundante, barata e sem direitos que sempre os atendeu como serviçais.

Esses e outros “incômodos” produzem um novo fenômeno gestado nas elites econômicas e na alta classe média: o antipetismo cresce não apenas pelo comportamento arrogante, perdulário, deslumbrado e corrupto de alguns de seus quadros, cresce, sobretudo, pelos acertos das políticas públicas de inclusão implantadas no período.

A aversão ao PTismo produziu essa anomalia política no tecido social da sociedade brasileira. Já existiam viúvos da ditadura, fundamentalistas religiosos e nazifascistas, mas essa turma sectária sequer conseguiria eleger um senador. Minoria que sempre sonhou com regimes totalitários.

Há os oportunistas, há os bandidos, há os ideologicamente nazistas e fascistas, alimentando essa bolha que em ultima instância objetiva a permanência de privilégios, um regime totalitário ou a desintegração da unidade nacional. Criminosos que serão julgados por crime contra o Estado Democrático.

Mas a grande parte desses brasileiros é vitima da desinformação praticada com ciência e método. E do pânico de apelo moral introduzido por “religiosos”, sobretudo evangélicos neopentecostais como Malafaia.

Vítimas de si mesmo por desvalorizarem a cultura, o conhecimento, desconhecerem a História e não terem identidade com movimentos populares por emancipação econômica e conquistas sociais.

Fermento nessa bolha que caminha como manada, os pastores empresários da fé, cujo deus do qual são mensageiro é raivoso e punitivo, há anos estão se apropriando do suado dinheiro do povo crédulo e temente a Deus, incutindo o medo. Esses fariseus sabem que são aliciadores ilusionistas, estelionatários e cometem crime contra a economia popular.

Através do voto do rebanho, consolidam poder político como forma de legitimidade e proteção. A cada eleição ampliam a bancada, que funciona como moeda de pressão para emparedar o Executivo. A ousadia é tanta que tramita no Congresso Lei que dará isenção fiscal para os seus conglomerados religiosos.  É o ovo da serpente que atentará contra o Estado laico.

Qualquer estudante de primeiro período descobre ao estudar Marx Weber, a influência que a religião exerce sobre as relações sociais e de produção em uma dada sociedade. Os adeptos do Bolsonarismo chamarão Weber de comunista, o outro Marx, o Karl, comunista, não concordaria com isso.

Mas bolsonaristas não leem. São informados. Seguem aprisionados nas redes de whatsaap, youtube, instagram, tiktok e telegram. São os habitantes do planeta Zap. No momento, lutam contra moinhos de vento resistindo à ditadura do judiciário na esperança de livrar o Brasil do comunismo e da degradação moral. A insanidade é tamanha que se confunde com piada.

Bolsonaristas não conseguem se libertar do “arrebatamento patriótico religioso em nome de Deus, Pátria, Família e liberdade”, com plena liberdade para se manifestar. Estão longe de recobrar a capacidade cognitiva analítica.

Continuam a produzir cenas bizarras e patéticas descoladas da realidade. Mas para um bolsonarista, os que pensam diferente das suas convicções é que vivem fora da realidade.

Bolsonaro tornou-se o elemento catalisador dessa massa teleguiada pelas redes sociais. É o líder do segundo maior partido político do país, o Partido Anti-PT. Há muita hipocrisia e pilantragem nesse pendor moralista em defesa da família, dos bons costumes, do cidadão de bem e do combate à corrupção e ao comunismo.

Tiveram seu momento de gozo e euforia. Na Amazônia, muitos se aproveitaram do desmonte dos órgãos fiscalizadores, do comportamento leniente das forças armadas (caso dos Yanomamis), e dos discursos de Bolsonaro contra os povos indígenas e seus territórios, para saquear a floresta, seu subsolo e grilarem terras públicas.

Bolsonaro promoveu uma espécie de liberou geral para o crime, nas suas mais diversificadas formas. E pior, em nome de uma patética liberdade liberou e estimulou o uso de armas. Nas entrelinhas de seus discursos contra o Judiciário, era como se perguntasse e respondesse: Justiça? Faça você mesmo. Um ser perverso a ludibriar os crédulos via redes sociais.

Seus contemporâneos de academia militar o alcunharam por dois apelidos: cavalão e ladrãozinho, ambos muitos apropriados. O primeiro remete a sua estupidez e ignorância (com o perdão dos cavalos) e o segundo, ao episódio das joias vendidas nos EEUU, que o nivela aos batedores de carteira.

Quem o conhece jamais o compra. Nenhum presidente bajulou as Forças Armadas como Bolsonaro. Os deixou fora da reforma da previdência, os manteve em regime de aposentadoria diferenciado, lhes deu aumento real de 46% acima da inflação, colocou mais de seis mil e quinhentos militares em cargos comissionados na administração pública federal.

Mas a maioria dos generais, brigadeiros e almirantes não embarcou na sua aventura do golpe, sabem de quem se trata, conhecem sua índole genocida, sua incapacidade cognitiva, ausência de espírito público e seu mau caráter.

Ele é o patriota que bate continência para a bandeira americana. O patriota que entregou o pré-sal subavaliado às estatais chinesa, norueguesa e as cinco irmãs norte americanas, no momento em que o real sofria a maior desvalorização de sua história.

O patriota que entregou o sistema elétrico nacional (Eletrobrás) nas mãos de fundos de pensão estrangeiros e de especuladores, como a trinca de bilionários responsáveis pelo rombo e calote das lojas americanas.

O patriota que entregou a refinarias da Petrobras por um terço do valor de mercado aos petrodólares supervalorizados da Arábia saudita. Gratos pela pechinha, os sauditas o presentearam com joias de milhões de reais. Presentes recebidos na condição de Chefe de Estado, que pelas regras pertencem ao Estado brasileiro.

Fomentou com frases enigmáticas a ilusão nos incautos e fanáticos brasileiros habitantes do planeta Zap, a acreditarem que viria algo tremendo, como dizem os evangélicos, que anularia as eleições ou haveria uma intervenção militar e Lula não assumiria.

Lula foi proclamado presidente pelo TSE e o patriota continuou a mandar mensagens enigmáticas enquanto o povo do planeta Zap rezava para pneu, mandava sinais de celular a extraterrestres e gritava por socorro marchando nas portas dos quartéis.

O habitante do planeta zap respira através de uma complexa rede de comunicação, abduzidos pela verdade que os libertará, cujo oráculo é um ser que chamam de mito. Transe hipnótico produzido por uma avalanche de mentiras criminosas, manipulação e desinformação.

Essa rede de comunicação os mantém vivos na missão de salvar o Brasil. Não devem ouvir crer ou confiar em nenhuma informação que venha de fora da rede que os alimenta. Nada foi capaz de desativar esse sistema de dominação que aprisiona e adoece com mentiras a mente de milhões de brasileiros.

Os habitantes do planeta Zap continuam vagando na estratosfera aguardando o disco voador que os livrará da mamadeira de piroca, doutrinados que serão pela ideologia de gênero.

Não avacalhem nossa imagem diante do mundo, essa bandeira que vocês vestem feito capa do Batman, também é nossa.

É preciso agir e falar com bons argumentos, não sobre os feitos de Lula ou os maus feitos de Bolsonaro. O país precisa ampliar os investimentos em educação, ciência, tecnologia e inovação e cultura na plenitude de sua diversidade regional. Promovendo a inclusão dos desprovidos de recursos para bancar uma qualificada formação cultural, acadêmica e profissional.

Tudo está aí. Existe uma malha de universidades públicas e privadas, temos parque industrial, expressivos recursos naturais, biodiversidade que precisa ser pesquisada e explorada de forma sustentável. 

Não podemos esquecer que o Brasil esteve doente, ainda convalesce e as sequelas se espraiam sobre a avenida Paulista.   

Haverá o dia, quando o país estará livre desses encostos malignos como Bolsonaro seus pastores e asseclas, e não precisará de pai Lula e sua comitiva de pelegos pragmáticos sedentos por poder. E tudo isso será tragédia e folclore nas páginas de nossa História.

Paulo Cidmil

Diretor de produção artística e ativista cultural. Santareno, escreve regularmente no portal JC. Ele pode ser visto no…

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