Na Folha de S. Paulo
O ministro Aloizio Mercadante (Educação) voltou a defender nesta quinta-feira a ampliação de vagas em cursos de medicina no país.
A intenção é lançar neste ano um programa para aumentar a formação de novos profissionais da área.
“O Brasil tem 1,8 médicos para cada 1000 habitantes. Estamos muito abaixo da Argentina, Uruguai, dos países da Europa, da OCDE e nós precisamos, a médio prazo, aumentar a oferta de médicos pra chegar a um patamar em 2020 a 2,5 médicos por 1000 habitantes”, disse o ministro após participar de cerimônia no Palácio do Planalto.
Segundo o ministro, o aumento das vagas ocorrerá em universidades federais e estaduais e em “boas universidades particulares que têm nível de excelência”.
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Realmente é triste ler isso.Todos sabemos que existem sim médicos suficiente no Brasil. O que falta é uma distribuição melhor destes profissionais. Precisamos de um plano que estimule a interiorização do médico, e não que estes fiquem aglomerados em grandes centros esperando oportunidades.
As entidades médicas nacionais defendem um plano de carreira ( semelhante aos juizes). Na minha visão é a solução que iria obrigar os colegas a se deslocarem pro interior. Vamos ao exemplo de Santarem que é a 3ª ou 2º maior cidade do estado, mas possui apenas 106 médicos aqui registrados, enquanto o estado do PA possui 7.300 médicos cadastrados de acordo com o ultimo Censo do CFM.
Triste ler uma declaração dessas de um Ministro da Educação. Há muito o MEC parece ter dado preferência a quantidade de vagas no ensino superior, em detrimento da qualidade. Hoje o que importa são números, e não é só de médicos (basta avaliar a quantidade de vagas em cursos de Direito existentes).
Voltando a Medicina, nos últimos 15 anos o país passou por uma verdadeira explosão no número de cursos de Medicina, passando de menos de 90 no início da década de 1990 para mais de 180 atualmente. Hoje, cerca de 15.000 médicos se formam todos os anos no Brasil e, segundo o censo do CFM divulgado há alguns meses, muito em breve a população médica brasileira passará de 400.000 profissionais.
Por outro lado, a qualidade do ensino médico parece nunca ter sido tão ruim. Em outubro de 2010 tive a oportunidade de assistir uma conferência do Dr. Adib Jatene, na sessão de abertura de uma Assembleia Geral da IFMSA BRAZIL em Catanduva, SP. O que escutei de um dos mais renomados cardiologista do país, professor da Universidade de São Paulo e ex-Ministro da Saúde?! Que o Ensino Médico hoje “já não se faz como antigamente”, hoje a maioria esmagadora dos recém formados é incapaz de realizar procedimentos básicos, como uma entubação, uma paracentese. Melhor nem falar das chamadas pequenas cirurgias…
De fato, o novo Ministro da Educação parece desconhecer essa realidade, e mesmo o fato de que aumentar o número de vagas será apenas mais do mesmo. Uma quantidade maior de profissionais concentrados no Sul-Sudeste do país em NADA melhorá a Saúde Pública brasileira. Ao contrário, deverá mercantilizar ainda mais a prática da Medicina e, diante da concorrência maior, descaracterizar o papel desse profissional na sociedade.
Esse é assunto para um longo debate, e não só entre os profissionais médicos. O que mais estranho nisso tudo é o silêncio e quase omissão das sociedades médicas a cerca do tema (o velho hábito de fingir que não estou vendo para ver se o problema desaparece). A sociedade precisa começar a entender (e debater) que formar profissional de saúde não é tão simples como gostaríamos que fosse. Um reconhecido professor da Faculdade de Medicina da UFG, Celmo Celeno Porto, em sua obra “Semiologia Médica”, conceitua Medicina como um ofício misto de arte e ciência. Não se forma um cientista “as três porradas”. Quanto mais um artista…