Retirante, Santa Catarina. Por Jorge Guto

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Retirante, Santa Catarina. Por Jorge Guto
"Decidir partir, deixar o que quer que seja..."

Aquele sentimento de estar se arrumando para ir embora, sem nem mesmo sair do lugar e providenciar partida, com aqueles últimos olhares para tudo, é sentimento que perdura numa angústia.

Decidir partir, deixar o que quer que seja, sem exata noção do que estará perdendo ou ganhando.

A decisão tomada é um alimento que se ingere todos os dias. Como um pecado, que consome e se agarra no vício de pensar. O fato do hoje, que se concretizou à base de muitas noites matreiras, insone de tanto existir.

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Mas longe de mim ser poeta, a mala é pronta paulatinamente, com uma dramaticidade própria de quem vai. A razão organiza qualquer dos pertences no fundo dela, e tanto se arruma o que levar, quanto o que se deixa para partir.

Todo dia, cada respiração, se prepara para chegar. E cada cena passa a ser o que sempre é, a última, rasgando a eternidade, enchendo de coisas fúteis também, uma linha do tempo ocupada em colecionar coisas corriqueiras, imagens de quem fica, emoções de quem precisa ir.

Penso que generosa é a morte, que nos faz partir sem avisar. Deus pensando em nos poupar, inventou o futuro, onde nada sabemos de lá, o diabo fez a ansiedade, subproduto mal reprografado, que consome até a alma o querer adivinhar.

➽➽ Jorge Augusto Morais, o Jorge Guto, é santareno, formado em direito e aprendiz da crônica reflexiva, em prosa, influenciado por uma tia, professora de literatura brasileira. Desde criança lê contos e escreve sobre dramas humanos universais, tendo como cenário uma Amazônia que pode estar na informalidade e no inusitado.


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