Folclórico e nocivo

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Folclórico e nocivo, Eduardo Paes 27.07.2013Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro

por Helvecio Santos

Blog do Jeso | Helvécio SantosJustificando o gasto com as obras ditas necessárias para sediá-los, ainda lembro do prefeito Cesar Maia desfiando um longo rosário de benefícios que os Jogos Pan Americanos de 2007 trariam ao Rio de Janeiro.

Hoje, nove anos depois, amargamos a dívida das ditas obras.

De péssima qualidade, como de resto toda obra pública no Brasil, são emblemáticos o Estádio Engenhão que pouco tempo depois da inauguração foi condenado por não oferecer segurança necessária à utilidade proposta, e a decantada Vila Olímpica, prédios que à míngua de fundações adequadas, afundam e perdem o prumo, num enorme prejuízo aos que compraram os imóveis acreditando nas palavras do prefeito.

Na verdade, das obras de urbanização no entorno do Engenhão que seriam a grande herança para a população, nada se viu. Como antes, lá estão as ruas apertadas, mal iluminadas e mal pavimentadas.

Logo depois do Pan, outro engodo bateu à nossa porta.

Vendida como uma mudança de paradigma, a Copa do Mundo de Futebol/2014 demandou ao Rio de Janeiro a reforma do estádio do Maracanã, enfiada goela abaixo pelo governador Sério Cabral a um custo inicial de R$720 milhões e que, a duras penas, alcançou a cifra astronômica de mais de R$1,200 bilhão.

Hoje, em consequência das altas taxas cobradas pela administradora do estádio, os times do Rio de Janeiro optam por jogar nas cidades do interior ou em outros estados.

Como herança do tão falado “Padrão Fifa”, só mesmo a lembrança da sonora recepção “erótica” à Presidente e a goleada da Alemanha.

Mas vamos lá!

Quando cito os adjetivos folclórico e nocivo, refiro-me ao prefeito Eduardo Paes que picado pela mosca azul das Olimpíadas, o engodo da vez, transformou a outrora Cidade Maravilhosa num verdadeiro circo de horror ou, se quiserem, inferno de Dante.

A cidade está sendo maquiada para os Jogos Olímpicos, para os visitantes que vêm e vão, em prejuízo dos moradores que ficam.

Para não ser cansativo, pelo lado folclórico cito duas situações que bem espelham a adjetivação.

A primeira, o impulso puxassaquista no telefonema de apoio ao ex-presidente Lula, quando o episódio do triplex no Guarujá estava em seu pico.

Nada a estranhar do puxassaquismo, normal no alcaide. Assim se comportou quando queria vantagens do falecido ex-governador Marcelo Alencar, no PSDB, e depois com o então governador Sérgio Cabral, já no PMDB, para onde arribou.

Com o áudio do telefonema vindo a público, o ápice da presepada puxassaquista foi a ironia na comparação da granja em Atibaia que o presidente nega ser dele, a um sitiozinho de m(*) ali pras bandas de Maricá (RJ), frisando que ainda se pelo menos fosse em “Angra dos Reis ou Itaipava, presidente, mas em Maricá?”.

Por esta insensatez, foi o Judas mais malhado no sábado de Aleluia deste ano em Maricá e é aconselhável que tão cedo não apareça por lá.

O carioca que faz piada com a própria desgraça, também nunca perde a oportunidade com a desgraça alheia. Hoje muitos se referem ao prefeito como Eduardo “Maricá” ou Dudu “Maricá”.

A segunda situação folclórica foi quando em janeiro deste ano, 2016, inaugurou a ciclovia Tim Maia montado num triciclo, com uma bota de gesso no pé e com um sorriso maroto sob encomenda. Queria passar a ideia de que mesmo doente não descuidava do trabalho em prol da cidade.

E por que nocivo? Seria um longo rosário mas citarei somente algumas prejudicialidades.

Recentemente parte da ciclovia Tim Maia, repita-se, inaugurada em janeiro deste ano, desabou. A curiosidade mórbida é que a empresa responsável pela obra foi fundada pelo avô do Secretário Municipal de Turismo e hoje é dirigida por um tio e um primo do mesmo.

Ilegalidade? O prefeito afirma que nenhuma.

Bom, pode até ser legal, mas não é ético e essa confusão de parentesco sempre se revela, como no caso, nociva ao interesse público.

No mesmo sábado em que às 11:45h da manhã parte da ciclovia Tim Maia desabava, o teto da emergência infantil do Hospital Municipal Rocha Faria no bairro de Campo Grande, também vinha abaixo.

Do teto do hospital não houve tanta divulgação, pois a Zona Norte do Rio, pobre, não dá ibope.

Esse festival de nocividade também contempla o Centro do Rio de Janeiro. O bairro está um verdadeiro caos, fruto das obras para atender as Olimpíadas. Por experiências anteriores e pela urgência com que são tocadas, em pouco tempo ou serão abandonadas porque não foram feitas para atender a necessidade da população ou porque são de péssima qualidade e começam a desandar.

Também o “asfalto liso”, uma grande promessa de campanha, hoje é outra nocividade. De péssima qualidade, dele se desprende uma poeira preta que invade os imóveis e nem é preciso dizer, as doenças respiratórias agradecem. A limpeza de móveis e cômodos é algo impossível. Nem bem se limpa e logo ali está a poeira.

A péssima qualidade do asfalto fez a pavimentação cedo se deteriorar. Andar de carro ou moto nas ruas do Rio é como montar cavalo em rodeio. Solavancos e mais solavancos, pinoteando que nem cavalo brabo.

As Unidades de Pronto Atendimento, menina dos olhos do prefeito na área da saúde quando da campanha eleitoral, não têm pessoal suficiente, não têm material, estão com lixo por todo lado e o matagal tomando conta dos terrenos no entorno. A COMLURB, empresa municipal de limpeza, não faz o que deve.

Também há dias, num final de semana, o prefeito levou o filho à emergência do Hospital Municipal Lourenço Jorge e lá foi atendido por uma médica. Por que a mesma pediu a identidade do garoto para fazer o registro, o prefeito, ofendido, demitiu-a na hora. Como o sindicato ameaçou processá-lo, voltou atrás e elogiou o serviço, as acomodações e a disponibilidade de material.

Dias depois um canal de televisão fez uma reportagem no mesmo hospital mostrando que havia carência de médicos, de material e muitas pessoas estavam acomodadas em leitos no chão do corredor.

Todas estas são situações nocivas à cidade, nas quais o prefeito tem a palavra final, daí ser a fonte da nocividade.
O gasto com as Olimpíadas é de R$38,2 bilhões, obras que no custo benefício só serão úteis para massagear o ego do alcaide.

O povo? Que se exploda!

As grandes e reais demandas, como o combate à pobreza, à violência, ao analfabetismo, à educação, à saúde e a melhoria nas condições sanitárias da cidade ficarão para depois.

Isso passa ao largo das Olimpíadas e o importante é maquiar a cidade para o visitante olímpico, mesmo que sob o risco de uma saudação “erótica” na Solenidade de Abertura ou Encerramento, a exemplo do que aconteceu com a Presidenta (?) na Copa do Mundo.

Mas há um consolo!

O Alhambra, maravilha construída no século XIV, na época da dominação muçulmana na Espanha, está até hoje de pé e lindo! Pensando nas obras do alcaide do Rio de Janeiro, regozijo-me! Tendo como referência a ciclovia Tim Maia que em 3 meses uma parte desabou, é certo que num futuro próximo não restará obra para testemunhar que Eduardo “Maricá” foi prefeito do Rio.


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É advogado e economista santareno, residente no Rio de Janeiro. Ex-jogador e torcedor do São Francisco.

3 Responses to Folclórico e nocivo

  • Esse negócio de gastar com copa do mundo (levamos o farelo pra Alemanha 7X0 Brasil), foi uma tremenda safadeza com o povo que precisa de emprego e renda, hoje, um monte de coisas feitas com nosso suado dinheiro dos imposto (pago todo ano pro desgoverno o equivalente uma moto Bros 160 com placa e tudo e gasolina por uns 6 meses) e mal possuo uma Fan 125 Kick Start (pedal de partida). Agora eles vem com esse papo furado de olimpíadas pra inglês ver: CAMBADA DE SAFADOS LADROES DO POVO, CANALHAS!!!!!!

  • Caro Helvécio, pergunto eu: alguém foi responsabilizado? Não né? Nunca serão! Jamais! César Maia, Sérgio Cabral Filho, Eduardo Paes, é isso ai cariocas, desgraça pouca é bobagem! Continuem assim…

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