Do engenheiro florestal Mário Jorge Parente, de Belém, por e-mail:
Um acordo nada menos que suspeito aconteceu, recentemente, envolvendo o segundo posto mais importante da Sagri (Secretaria de Agricultura do Estado do Pará): a indicação para o cargo de secretário adjunto.
Zé Raimundo, antigo militante dos trabalhadores rurais e que chegou a dirigir a Escola Sindical da Amazônia, posto para qual foi indicado por fazer parte da direção da Unidade na Luta, grupo interno do PT que no Pará cumpre as determinações do deputado federal Paulo Rocha, foi indicado para o cargo no início do governo petista.
Ele ficou no cargo até o final de março, já que pretende concorrer nas eleições de outubro.
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Zé Raimundo é oriundo de Cametá, região do Baixo-Tocantins, região conhecida pela preferências de seus moradores por açaí e mapará. Como bom cametaense, Zé cuidou de não negar suas origens, e levou isso às ultimas conseqüências. Até porque precisa defender seus irmãos de origem.
Ao deixar a Secretaria Adjunta da Sagri, negociou de forma bem regional sua saída. Rifou a indicação do espaço por 5 (cinco) litros de açaí, quatro quilos de mapará e três quilos de farinha. Isso mesmo. Foi essa negociação que o representante da Unidade na Luta fechou com o grupo que dirige a Sagri.
A preocupação do Zé Raimundo justifica-se pela escassez do açaí.
Dois dos itens do acordo já foi entregue: o mapará e a farinha. O mapará veio por meio de indicação do próprio Zé para assessor especial para Governadoria do Estado. A farinha se transformou na nomeação de algumas pessoas indicadas por Zé para própria Secretaria Adjunta da Sagri.
Bom, e o açaí?
O açaí é mais complicado, porque envolve uma negociação para aprovação de projetos na própria Sagri para manejo de açaizais de Zé Raimundo. Ou seja, frutificar seus redutos eleitorais em busca de votos.
Esse acordo será colocado à prova nas eleições de outubro. No entanto, em junho Zé já participar da procissão de São João Batista, para pedir ao santo que abençoe o acordo.
Caso o resultado não seja o esperado, no Círio de Nossa Senhora de Nazaré teremos mais uma categoria de romeiro, que são os que levarão na cabeça raza (paneiro típico de transportar açaí) vazia não pela falta de frutos e sim pela falta de votos.
A alegoria criada por Mário Jorge – “5 (cinco) litros de açaí, quatro quilos de mapará e três quilos de farinha” – define, com precisão cirúrgica, o saldo de todas as esperanças de mudanças depositadas nas urnas em 2002: a absoluta decadência das relações políticas de nossos tempos.