
Ele saiu em direção da orla, passos como se em transe. Foi sentido o mormaço do asfalto no corpo todo, até chegar de frente com um soprar de vento, vindo dos rios.
Mirou o horizonte batido, o mais ingrato dos seres humanos fitava aquele horizonte, sempre ali, um tanto distante que parecia também próximo, com a mesma cara de sempre, do outro lado, fazendo o seu papel de linha aparente.
Depois desceu lentamente as escadas, acessou um pedacinho de areia de praia, e foi entrando numa água gelada e esverdeada do Tapajós. Caminhou empurrando uma maresia, o caminhar mostrava pedras, e uma areia, a mesma do percurso até ali.
Foi se enchendo do afluente, certa compressão, da densidade, quando deu por si estava até o pescoço. Quatro segundos, estava coberto e nem tentou respirar. Já era decisão tomada lá atrás. Não deu mais pé e seguiu como que abrindo espaço pelo fundo, um mergulhador às avessas, não sabia nadar.
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Até que sentiu os pulmões doerem, era excesso de líquido ocupando todas as vias respiratórias, e passivamente deixou que afundasse como um espetáculo de ballet, até escurecer a vista e, então seu corpo depois de um tempo desacordado, tocou o fundo.
O corpo deitou na areia de uma profundeza tapajônica. Estava consumado. Todo o peso da sua história ali, em massa estranha naquele lugar, arrastada pela força de uma correnteza própria de fundo de rio.
➽➽ Jorge Guto é cronista santareno.
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É o pulso que deu o último pulsar?