Impactos da pandemia escancarados na volta às aulas. Por Wildson Queiroz

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Impactos da pandemia escancarados na volta às aulas. Por Wildson Queiroz
Um dos impactos da pandemia: salas de aula vazias. Foto: Reprodução

Após um longo período de paralisação, as aulas presenciais retornaram na maior parte do país. No estado do Pará, o retorno teve início há cerca de dois meses de forma escalonada. Neste curto período de aulas já é possível perceber a gritante elevação no número de desistências e abandonos.

Sou professor do ensino médio da rede estadual e em algumas turmas, que constam com quarenta nomes na lista de chamada, tenho ministrado aulas para apenas um aluno que na semana seguinte acaba faltando e aparece outro no lugar. É bem verdade que em algumas turmas o número de alunos é relativamente bom, mas abaixo da expectativa e da quantidade de matriculados.

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Essa semana percebi que um dos meus alunos não frequentava as aulas há quatro semanas, perguntei na turma e ninguém soube explicar o motivo da ausência do colega de classe. Neste mesmo dia, quando saía da escola, deparei-me com um jovem trajando sandálias, uma bermuda, colete colorido e um boné publicitário; era o dito aluno que havia sumido das aulas, estava vendendo cartelas de bingo no mesmo horário em que deveria estar na sala.

A difícil situação financeira e a necessidade de contribuir com renda dentro de casa fez com que ele optasse em ganhar algum dinheiro ao invés de frequentar as aulas.

Esta cena lamentável repete-se todos os dias em muitos lares. Jovens, moças e rapazes que por diversos motivos abandonaram os estudos e decidiram arrumar um trabalho ou alguma forma de ganhar dinheiro e ajudar no sustento da família. São jovens com idade entre 14 e 19 anos, que deveriam estar na escola em busca de um futuro melhor.

Reprovação e abandono são problemas antigos na educação, mas com a pandemia essa triste realidade foi acentuada e a disparidade socioeconômica do país ficou escancarada.

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Estudo realizado pelo Fundo das Nações Unidas pela Infância (Unicef), publicado em janeiro de 2021, estima que 4,1 milhões de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos tiveram dificuldade de acesso ao ensino remoto em 2020. E que cerca de 1,3 milhão abandonou a escola.

Os dados foram coletados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de outubro de 2020. Os números só não são piores porque as secretarias estaduais e municipais de educação, em comum acordo com os conselhos de educação, decidiram emitir portarias e resoluções autorizando que todo aluno matriculado deveria ser aprovado automaticamente, independente de ter ou não realizado as atividades escolares.

Chegamos ao fundo do poço, voltamos algumas décadas no tempo, a desigualdade virou abismo e buscar a luz no fim do túnel é o grande desafio que se impõem a educadores e gestores públicos.

É preciso resgatar esses alunos e oferecer condições para que permaneçam na escola. Mostrar a eles que a escola é um local seguro, onde além do ensino, ele terá também alimentação e acolhimento emocional.

É inaceitável que ainda existam escolas sem as condições mínimas de infraestrutura, que não oferecem banheiros limpos e higienizados, biblioteca, laboratório de ciências e quadra para atividades esportivas. É preciso correr atrás do prejuízo para que uma geração inteira de jovens e adolescentes não paguem um preço ainda maior no futuro. 

<strong>Wildson Queiroz</strong>
Wildson Queiroz

É pedagogo, historiador e professor. Ex-secretário municipal de Cultura de Alenquer (PA), onde reside. Escreve regularmente no portal BJ.


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