Condomínio de luxo em Alter do Chão de advogado ligado ao prefeito eleito Zé Maria vira alvo do MPF

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Condomínio de luxo em Alter do Chão de advogado ligado ao prefeito eleito Zé Maria vira alvo do MPF
Foto aérea de parte do imóvel, com vegetação nativa desmatada, onde está previsto a construção de um condomínio de luxo em Alter do Chão. Foto: Reprodução

O Ministério Público Federal (MPF) adotou um conjunto de medidas para proteger o meio ambiente e o povo indígena Borari em Alter do Chão, distrito de Santarém, no Pará. As iniciativas buscam conter os crescentes casos de desmatamentos, queimadas, grilagem, obras irregulares e a especulação imobiliária na região, impulsionados pelo turismo desordenado.

Entre as medidas, o MPF solicitou informações da Semma (Secretaria Municipal de Meio Ambiente) sobre a construção de um condomínio de luxo na vila balneária, que tem à frente o advogado José Maria Ferreira Lima, ligado ao prefeito eleito Zé Maria Tapajós (MDB).

A falta de elaboração e aprovação de plano de manejo e zoneamento ambiental para a Área de Proteção Ambiental (APA) de Alter do Chão, somada à omissão da Prefeitura de Santarém em conter o avanço desordenado de obras, tem contribuído para a degradação ambiental da região, ressalta o MPF.

A estratégia do órgão ministerial se articula em duas frentes principais: a cobrança da atuação de órgãos responsáveis pela proteção ambiental e a investigação de irregularidades. As solicitações reivindicam ações concretas para a proteção da APA de Alter do Chão.

Proteção ao patrimônio cultural e paisagístico de Alter do Chão

O MPF defende a criação de uma Unidade de Conservação (UC) estadual com maior rigor na área, a reclassificação da região no Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) do Pará para zona de uso sustentável, e a aplicação de medidas de proteção ao patrimônio cultural e paisagístico de Alter do Chão.

Para o MPF, a criação de uma UC estadual seria uma solução fundamental para reduzir as pressões sobre a área. O procurador da República Vítor Vieira Alves lembra que todas as grandes áreas de turismo ecológico no Brasil são protegidas por UCs de domínio e posse públicos, como os parques nacionais do Iguaçu, dos Lençóis Maranhenses, da Chapada dos Veadeiros, e o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha.

As medidas adotadas

Além disso, em paralelo à cobrança por ações preventivas, o MPF segue atuando contra obras irregulares na área e, a pedido dos Borari, começou a investigar a construção de um resort turístico na área da antiga Escola da Floresta, localizada em uma área de preservação permanente no Lago Verde.

Em reunião na última quinta-feira (14), o pacote de medidas foi apresentado ao povo Borari, de Alter do Chão, que participou do processo de elaboração e articulação e concordou com a proposta do MPF. Após a reunião, o procurador da República Vítor Vieira Alves determinou o envio de solicitações:

• ao governador do Pará e ao Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio): para a abertura de processo para criação de uma UC estadual sobreposta à APA Alter do Chão, de domínio e posse pública, e de uso sustentável;

• ao governador do Pará e à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas): para a abertura de processo para reclassificação da área de Alter do Chão no ZEE, alterando de zona de expansão para zona de uso sustentável;

• ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan): para a abertura de procedimento de chancela para proteger o valor paisagístico e turístico de Alter do Chão;

• ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama): para envio, ao MPF, de cópia do auto de infração, do termo de embargo e do relatório de fiscalização emitidos contra a empresa Machado Lima Construção, em relação à construção de obra irregular na área onde antes ficava a Escola da Floresta;

• à Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santarém (Semma): para envio, ao MPF, de informações sobre a ausência de plano de manejo e zoneamento da APA Alter do Chão, manifestação sobre a obra (condomínio de luxo) irregular no Lago Verde e o envio de procedimentos de licenciamento ambiental concedidos à empresa Machado Lima Construções na APA.

Além do envio de solicitações, o procurador da República Vítor Vieira Alves realizou uma inspeção na obra em andamento na área da antiga Escola da Floresta, no Lago Verde.

A inspeção buscou coletar informações sobre a regularidade ambiental da obra, o estado da vegetação, a retirada de vegetação já realizada, a possível existência de sítios arqueológicos e a relação do povo Borari com a área.

Com informações do MPF e da redação do JC

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