Santarém sob o regime da necropolítica. Por Felipe Bandeira

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Santarém sob o regime da necropolítica. Por Felipe Bandeira
Santarém sob lockdown. Foto: Ádrio Denner/Arquivo BJ

A pandemia do novo coronavírus aprofundou o quadro de vulnerabilidade social do Brasil. Ao observamos as diferenças regionais, a realidade da Amazônia é ainda mais grave.

Como revelou os dados da PNAD Covid, divulgados em novembro de 2020 pelo IBGE, a pandemia impactou de forma desigual e mais severa os trabalhadores e trabalhadoras que se integram precariamente ao mercado de trabalho e, por este motivo, encontram desassistidos da rede de proteção do Estado.

Felipe Bandeira *

Enquanto que a taxa de desemprego do Brasil alcançou 14% no final de 2020, no Pará, esta taxa foi de 15,3%. Esta estrutura do trabalho, com alto índice de desemprego e informalidade, reflete uma piora na qualidade de vida do conjunto mais pobre da população.  

Sem trabalho, cerca de 3 milhões de pessoas no país enfrentaram a pandemia apenas com a renda do Auxílio Emergencial (AE). No Pará, mais de 61,1% dos domicílios foram contemplados com este programa. De modo geral, o AE foi responsável pela redução dos índices de pobreza e miséria no Brasil, mesmo em um ano crítico de pandemia.

Com o fim do programa, entretanto, as estimativas apontam para um triste movimento de degradação das condições de existência da população. Segundo estudo divulgado pela Fundação Getúlio Vargas, cerca de 18 milhões de pessoas retornarão a linha da pobreza e extrema pobreza no Brasil em 2021.

 

Soma-se a este quadro desolador, a péssima atuação do governo Bolsonaro no combate à pandemia. Mas não é só isso: a negligência de Bolsonaro é a expressão de um regime de exceção. Achille Mbembe (2018) chama de necropolítica este tipo de arranjo social. Trata-se de garantir o poder através da morte e suspensão temporária do Estado de Direito, fazendo da soberania o exercício de destruição material de corpos humanos.

No contexto de pandemia, os sepultamentos em massa, campanhas antivacina e as mortes de uma ala inteira em um hospital de Manaus por falta de oxigênio, para ficar somente nesses exemplos, são imagens emblemáticas deste tipo de arranjo social.

LEIA também de Felipe Bandeira: A narrativa da independência do Brasil.

Em Santarém, o número de mortes por 100 mil habitante é de 157, valor maior do que o índice do Estado, que é 88, e do Brasil, com 106 (valores calculados até o dia 30/01/21). Isto nos coloca no olho do furacão da pandemia no mundo.

A situação do sistema de saúde do município é grave. A taxa de contágio – com a cepa mais agressiva do vírus – está em plena expansão e os leitos de UTI estão quase em plena utilização.

A naturalização das mortes e ações do Estado de Exceção utilizam hierarquias raciais como base normativa para o direito de matar. Os operadores dessa política, ao utilizar critérios étnicos e raciais, produzem a subdivisão da população em grupos e subgrupos que, para legitimar suas mortes, são classificados como inimigos que precisam ser constantemente criados e recriados pelas práticas e discursos de ódio.

Por tudo isso, é correto afirmar que Santarém está sob o regime da necropolítica: as periferias, populações negras, povos indígenas e quilombolas estão entre os primeiros a serem abatidos.

 

Mas, embora a normalização da violação de corpos e direitos reforcem modalidades de poder neocoloniais, as populações negras, povos indígenas e quilombolas a todo momento se confrontam com este projeto de morte e ressignificam seus laços de solidariedade.

Este movimento aponta para alternativas reais e permite pensar outros sentidos da nossa existência além da melancolia e do luto. Portanto, em todo Brasil e, particularmente em Santarém, derrotar Bolsonaro e seus aliados se tornou o ponto zero para a construção de uma sociedade mais igualitária.


— * Felipe Bandeira é doutorando em Desenvolvimento Econômic0 pela Unicamp, mestre em Economia pela UFPA e Graduado em Economia pela Ufopa.

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6 Responses to Santarém sob o regime da necropolítica. Por Felipe Bandeira

  • Vi e li em vários meios de comunicação Presidente Bolsonaro falar diversas vezes que povos indigenas serão oa primeiros a serem vacinados. Que necropolitica é essa então???

  • Aqui em Santarém a covid atingiu tantas boas pessoas. Grandes jornalistas como Celivaldo Carneiro, policiais, pais e mães de familia, artistas como jorge marcião, servidores publicos, tantos professores e professoras como a querida professora zilma, taxistas, feirantes, donas de casa, domésticas, enfermeiros. Quero saber quem são os quilombolas e indigenas que foram mortos pela covid em santarèm e pela necropolitica do Bolsonaro??. O Doutor em economis poderia nos responder?? Me preocupi também com nossos indigenas. Graças a Deus que eles seråo os primeiros a receberem a vacina inclusive.

  • Resumindos culpa é de Bolsonaro. O autor deveria verificar que o Governo Federal, nessa pandemia é apenas um gerenciador de recursos e atua subsidiariamente a pedido de governadores e prefeitos, conforme preceitua determinação do STF.
    Mas culpa é de Bolsonaro kkkkkk

  • Os numeros da Sespa santarem informaram morte de professores, advogados, medicos, empresarios, comerciantes, estudantes. Quem são os indigenas e quilombolas abatidos pela necropolitica da covid em santarém??

  • Prezado Mestre doutourando felipe bandeira. Me interesso muito por sociologia e questões sociais. O sr pode citar os indigenas e quilombolas abatidos pela covid em santarém??? Onde o sr verificou essas estatisticas?? A Sespa lhe repassou esses dados dessa necropolitica de santarém?? Os abatidos da periferia, populações negras e indigenas precisam ser repassados. O sr como Mestre e futuro doutor deve disponibilizar

  • Prezado Mestre doutourando felipe bandeira. Me interesso muito por sociologia e questões sociais. O sr pode citar os indigenas e quilombolas abatidos pela covid em santarém??? Onde o sr verificou essas estatisticas?? A Sespa lhe repassou esses dados dessa necropolitica de santarém?? Os abatidos da periferia, populações negras e indigenas precisam ser repassados. O sr como Mestre e futuro doutor deve disponibilizar

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