
Um dos temas mais sensíveis da atual campanha eleitoral é, sem dúvida, a Amazônia. Tema recorrente nos noticiários, com notícias assustadoras sobre incremento do desmatamento e de queimadas de extensas áreas de florestas, a Amazônia pede passagem na agenda nacional e internacional.
As eleições de 2022 colocam na arena de debates os interesses do agronegócio que atua pela incorporação das terras da região como estoque para a expansão da produção para exportação. A economia agrária da Amazônia, cada vez mais multinacional, engloba cadeias agroindustriais que respondem pela intensificação do desmatamento e interligam pastos e plantios de grãos aos supermercados europeus e chineses.[2]
- Leia também de Raimunda Monteiro: Amazônia no centro do mundo e a maior riqueza do Brasil.
A mineração, liderando o PIB do estado do Pará durante as últimas décadas, aparece também como cadeia produtiva extremamente vinculada ao agravamento da crise ambiental e da violação de direitos que abalam a sensatez no país e no mundo[3].
A violência dos grupos que operam pela ilegalidade teve no brutal assassinato de Bruno e Dom, a anúncio de confrontos que tendem a aumentar com a ceifa de vidas e a degradação da natureza em níveis terminais.
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Nesse contexto, a visita do candidato Lula, em setembro a Manaus e Belém carrega um significado de possível contenção do atual ciclo de destruição sem precedentes. Um freio aos incêndios criminosos, garimpos ilegais e invasões de territórios protegidos.
Em Manaus, Lula visitou o Museu do Amanhã (MUSA), uma floresta tornada museu vivo, onde conversou com cientistas, lideranças indígenas, de movimentos sociais e setores acadêmicos. Ouviu que a Amazônia deve estar no centro da política de desenvolvimento nacional, porém apoiada no desenvolvimento científico e tecnológico para o devido tratamento da natureza e de seus recursos, de forma duradoura.
Em Belém, Lula deu atenção para a cultura amazônica, no contato com fazedores e com manifestações culturais paraenses, no Theatro da Paz. Janja, a esposa de Lula, dançou carimbó com o governador Helder Barbalho. O potencial da Economia criativa, que responde por significativos índices no PIB de estados do Nordeste, Rio de Janeiro e São Paulo, é um caminho aberto aos estados da Amazônia.
No Parque dos Igarapés, em Belém, Lula ouviu novamente a comunidade científica, numa agenda que reuniu líderes de diversos grupos e etnias indígenas de todo o estado, povos de terreiros e populações extrativistas. Os mais ameaçados em seus meios de vida, com o avanço da destruição de rios e florestas.
Foi recebido no ato, por Tuíra, imortalizada pela imagem de jovem guerreira Kayapó, passando o terçado o rosto do chefe da Eletronorte, em 1989, em Altamira, contra a construção de hidrelétricas no Xingu. No mesmo palanque, Lula recebeu de Beatriz Matos, viúva de Bruno Pereira, uma carta pedindo Justiça para Bruno e Dom Phillips e proteção aos índios isolados, razão da morte dos dois. Beatriz chorou diante do ex-presidente.
A presença de Tuíra, ícone da resistência às barragens, não pode ser vista como capitulação em sua luta, mesmo após Belo Monte, construída por Lula e Dilma. Antes disso, pode ser vista como um apelo para que a destruição dos rios pare por aqui. Como uma denúncia dos impactos socioambientais provocados pelas UHEs de Tucuruí e de Belo Monte, esta última, apesar de todas as providências governamentais para minimizar impactos. Uma mensagem para que invista em energia limpa sem destruir patrimônio natural e desterritorializar povos.
O encontro de Tuíra e de Beatriz Matos com Lula carrega o significado de que os povos indígenas, os mais constantes em Brasília denunciando as atrocidades do governo Bolsonaro, serão ouvidos e terão lugar no governo. Lá, Lula repetiu que criará o Ministério dos Povos Originários, que inclui muitos outros povos presentes na Amazônia, invisibilizados em diversos episódios na História.

Desde 2021, grupos e movimentos políticos se reúnem no Brasil inteiro para formular propostas ao Programa de Governo de Lula e Alkmin, por meio de Núcleos de Acompanhamento de Políticas Públicas (NAPPs) temáticos.
A Amazônia foi pautada na maioria dos grupos, mas teve um tratamento específico por meio do Fórum do PT da Amazônia, que reuniu mais de 800 pessoas virtualmente e produziu a Carta Seres e Saberes da Amazônia são Riquezas do Brasil, entregue aos candidatos Lula e Alckmin, no dia 05 de junho passado, em São Paulo.
No mesmo mês, organizações sociais e acadêmicos do Amazonas também se uniram na construção de uma Vídeo-Carta, entregue a Lula na visita a Manaus. Os 106 emissários também incluíram assinantes do Pará e de outros estados.
Na visita a Belém, Lula recebeu ainda a Carta Ciência na Amazônia Democrática e Inclusiva: por uma política para o desenvolvimento da Amazônia com Ciência e respeito aos saberes ancestrais, a qual foi assinada por 27 pesquisadores e cientistas das principais instituições de pesquisa do estado do Pará.
A carta teve o endosso dos partidos da Federação Brasil da Esperança da região Norte (PT, PSB, Partido Verde e PCdoB) e do PSOL e REDE, por meio de uma Declaração Conjunta em defesa do Desenvolvimento sustentável da Amazônia, da Ciência, de seus povos e saberes ancestrais.
Essas são apenas quatro das principais manifestações que chegaram formalmente ao candidato à presidente, que recebeu também uma enxurrada de propostas para conter a destruição da Amazônia e promover economias sustentáveis por meio da plataforma aberta ao público.
Todas as vozes, propostas e manifestações convergem para o fortalecimento do papel do Estado na indução do desenvolvimento, no controle do uso dos recursos, na valorização dos ativos da natureza – tendo a Ciência como guia e a tecnologia como estratégia básica e acessível à todos os agentes da economia.
Os investimentos em infraestrutura, políticas sociais e culturais devem chegar às populações locais, de acordo com as regras de uso dos territórios. Sobre as políticas de fomento, é voz uníssona que a Amazônia seja tratada como prioridade na política de financiamento da pesquisa e das pós-graduações, estimulando e valorizando a produção de conhecimento na região.
O fortalecimento das instituições de pesquisa como INPA, Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), Museu Goeldi, Fiocruz, Instituto Evandro Chagas, Embrapa e as Universidades e Institutos Federais deve estar na agenda prioritária do governo federal.

Certamente os candidatos Lula e Alckmin estão recebendo dezenas de manifestações de desejos de outros setores sobre como explorar as riquezas da Amazônia. Os setores que desejam continuar fazendo uso indiscriminado e sem controle dos recursos tendem a apoiar o atual presidente.
Porém, Lula e Alckmin sabem que há setores nas economias do agronegócio que querem e aceitam produzir de forma correta e dentro das normais ambientais. E esses setores estão sendo ouvidos também.
A Amazônia continuará como pauta quente do futuro governo. O importante é que a campanha presidencial trouxe esperanças de diálogo e de que o Estado Nacional pode liderar um desenvolvimento que integre realmente a Amazônia ao país, com respeito aos direitos humanos e aos princípios ecológicos que sustentam a reprodução da vida, ao mesmo tempo ampliando as oportunidades de geração de renda por meio do uso inteligente de seus recursos naturais. Propostas não faltam.
[2] Acessível em: https://reporterbrasil.org.br/2021/12/exportacoes-de-carne-conectam-desmatamento-no-brasil-a-grandes-varejistas-globais/
[3]Acessível em: https://cumplicidadedestruicao.org/
com todo respeito a Professora Doutora :
Essa idéia de criar um ministerio dese naipe é uma idéia de jerico.. basta se garantir os direitos basicos do cidadão previstos e nao cumpridos na carta magna.
Se o Lula quiser fazer alguma coisa pela amazonia que comece pelo marajpo que durante o seu governo nunca realizou o plano de desenvolvimento sustentável do marajó. ESPERO QUE NÃO ESCREVA OUTRA CARTA AOS BRASILEIROS DE TRISTE MEMÓRIA.
um descondenado por seu assecla fachin. só no Brasil mesmo
Muito importante tambem – e alem: em sua visita ao Para, Lula recebeu reitores das tres universidades do estado. Da UFPa, mais antiga , e das duas universidades criadas na gestao petista na Presidencia da Republica: da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Para. E a Reitora Aldenize Xavier , da UFOPa . Muito bom! Excelente! Para a educacao e a ciencia paraenses.