
Escrevo para dizer que as cartas foram substituídas, sucumbimos à comunicação digital, imaginada em décadas passadas com as nossas imagens estampadas em uma tela.
De modo que estou avisando ser essa a nossa maneira de enviar informações que vão de assuntos mais relevantes aos mais sem importância possível, talvez só um ‘oi’, também como diria Lygia Fagundes Telles, aos amantes (quem sabe machadianos) : “amanhã?”.
Cartas que um dia foram lançadas em alto mar, era homem ao mar, parte pelo menos dessa humanidade que comunicava uma mensagem, ganhou evolução e chegou onde estamos.
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As palavras chegam no coração e na cabeça da gente nessa forma descodificada, pelo menos tecnicamente, mas que certamente não abre mão dos mistérios existentes no ato de comunicar.
E eu quero dizer que a solidão, dela não há como escapar. A solidão é uma casa abandonada, cujo aluguel é barato, no entanto, em muitas fases da vida preferimos os preços altos de conglomerados para termos pessoas e coisas ao nosso redor.
Mas aí essa casa que está sempre ali, no mesmo lugar, de alguma forma vai se aproximando da gente, e então, adentramos nela à primeira vista estranhando o teto empoeirado, a cortina desbotada, janelas e portas fechadas com histórias que por ali foram vividas.
E vamos tomando posse dela ou se bem a verdade ela que nos possui. Estava sempre ali aguardando o inquilino que a ignorou enquanto procurava outra morada, de preferência instável, residência fixa no passageiro, que no presente não faz sentido.
Agora a solidão é uma morada útil? Digo necessariamente utilizada. Já não há como ignorar, é um lugar que nos esperava.
Cada espírito, cada alma e corpo é uma casa onde só cabe um, onde estamos nós habitando, ignorando por um tempo, fazendo de conta que não estamos sozinhos.
E a carta? A carta dentro de uma garrafa lançada ao mar, somos nós apertados no espaço dentro da gente, singrando as revoltas águas porque acha que deve comunicar.
E também somos códigos que se descodificam digitalmente e no fim somos as mesmas palavras no mar…
…navegar sozinho é preciso.

➽➽ Jorge Augusto Morais, o Jorge Guto, é santareno, formado em direito e aprendiz da crônica reflexiva, em prosa, influenciado por uma tia, professora de literatura brasileira. Desde criança lê contos e escreve sobre dramas humanos universais, tendo como cenário uma Amazônia que pode estar na informalidade e no inusitado.
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