A voz da dor do povo se calou. Para sempre? Uma voz forte, incômoda, esperta e inteligente. Uma voz icônica e provocante. Uma voz… A voz! A voz que se ouvia nas rádios, nas redes sociais, nas ruas, nas conversas, nos fuxicos, nos debates e nos diversos encontros.
A voz que era ouvida por outras vozes. Num dia declamava um poema, noutro dia contava uma história ou criticava determinada situação. Quando ouvi-la novamente? Como ouvi-la hoje? Como ouvi-la amanhã? De repente, ela foi calada. E um ensurdecedor silêncio invadiu todas as ruas, todos os becos e todas as esquinas de Santarém.
Nas mentes de quem se acostumava a ouvi-la, um vazio sem tamanho ocupava todo o espaço. As mentes procuravam de certa forma raciocinar a nova realidade. E que difícil realidade! Não se conseguia acreditar no que se ouvia e no que se via. Não estavam preparados para isso. Ninguém estava.
A voz também tinha mãos, mãos que pincelavam em todos os cantos da Pérola do Tapajós, que levavam o colorido para a orla, para as praças, para os muros, para as paredes, para os quadros, para os olhos e para outras cidades da região.
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A mão que procurava resgatar a magia da arte em seu estilo próprio, procurando e encarando desafios, seguindo por desconhecidos caminhos e estranhas direções. A mesma mão que pintava, esculpia e modelava. Sua história ia muito além do que falava ou do que coloria. Sua história tinha o mais autêntico formato, embora fosse infinita; sua história era desde a sua simplicidade à mais complexa construção.
O tucunaré, o tracajá e o trenzinho numa parte da frente santarena dava uma vida diferente naquele pequeno espaço. Os letreiros nas cidades da região eram abraçados e feitos partes das vidas de todos aqueles que lá estavam ou se fotografavam.
Eram vários artistas num só, diversas almas numa só. Um simples ser humano? Na verdade, um verdadeiro artista! Um alguém aparentemente minúsculo com uma incomparável força.
Apolinário fala com Deus
Quem diria, quem diria… Quem diria que hoje esse texto surgiria não como texto de homenagem, mas como texto de saudade. Não de um homem que simplesmente viveu sobre a terra, mas também de um artista que voou pelos diferentes céus e diferentes mundos, fazendo-nos uma magia surreal.
A poderosa voz de hábeis mãos, um humano que queria ir muito além de sua humanidade. Seu olhar sério, sua pose artística, sua pele preta, sua arte, ele era a arte.
Ouviu-se um canto dizendo que tinha acabado o encanto. E o pranto passou a prender respirações, lágrimas passaram a ocupar incontáveis rostos. Mas não se deixe levar pela tempestade, porque ela passa e você precisa sobreviver para encarar outras tempestades.
Foi-se o artista, mas sua arte ainda vive, toda a sua história, todo o seu legado. Foi-se de uma forma trágica, de um jeito que não se esperava. Santarém agora chora a partida de seu filho e a história vibra com por ter em seus braços o grande Apolinário…
— * Silvan Cardoso é poeta, cronista e pedagogo.
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Linda homenagem Silvan. Que grandeza de espirito é Apolinário que Santarem nao mereceu. Eu que rezo tanto. Sou daqui e rezo todos os dias para sair desse lugar dessas mentalidades rasteiras e mediocres.
Obrigado.
Caro Silvan!
Meus parabéns pelo seu escrito onde acabei de ler.
Grande abraço,
RobrrtoMesquita.
Abraços, amigo.
E muito triste perder um artista como ele, que Deus possa abençoar lá no céu, pode fazer sua pinturas lá no céu…!!