Entre os muitos personagens que chamam a atenção das pessoas pelas ruas de Alenquer (PA) está este ícone que vai muito além da música local, que é um dos andarilhos mais conhecidos da cidade. A sua presença, acompanhada de conhecidas melodias, leva risos e alegrias a todos que o veem pelos lugares públicos, sempre com suas características próprias, construindo a figura única que é, não só da terra ximanga, como de muitos outros lugares por onde ele passou.
Francisco Antônio Sampaio dos Santos nasceu em Alenquer, no bairro Luanda, no dia 14 de fevereiro de 1952. É filho de Olavo Pereira dos Santos e de Laura Sampaio dos Santos e segundo de um total de 10 irmãos. Humilde, enfrentou desde a infância as dificuldades, de todas as formas possíveis, para alcançar as conquistas durante o seu viver.
Ainda na sua infância, sua irmã mais velha, quando falava com ele, não sabia dizer e se dirigir a ele com a palavra “maninho”. Ao invés de chamá-lo assim, falava a palavra “paim”, que para ela parecia um termo muito mais fácil de pronunciar. Assim, passou a ser conhecido, desde pequeno, como Paim.
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Paim sempre gostou de música. Ele costuma dizer que a música sempre esteve com ele. E, por conta dessa paixão, acompanhava os seresteiros de Alenquer da sua época de adolescente, vendo-os tocarem e cantarem nos lugares públicos, observando-os e buscando, mesmo que visualmente, ter alguma noção musical.
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Mas para vê-los tocando com frequência e, quem sabe, conseguir com eles alguma oportunidade, fazia questão de servir cachaça aos seresteiros toda vez que eles se reuniam. Como Paim era uma pessoa presente aos músicos com bastante frequência, e como percebiam no jovem um imenso interesse, em muitos momentos chamavam-no para cantar enquanto eles tocavam.
Paim estudou o primário na Escola Fulgêncio Simões e na Escola Santo Antônio. Também estudou aulas de canto com a professora Glória Barile, ainda na Escola Fulgêncio Simões. Entretanto, o jovem rapaz não quis se limitar somente aos sonhos. Era preciso viver a realidade. Para vivê-la, era necessário fazer outras atividades.
Uma dessas atividades que passou a se dedicar era o futebol. Ainda em Alenquer, jogou no Vasco da Luanda, tendo conquistado nesse time um Campeonato Alenquerense de Futebol, quando tinha entre 18 e 19 anos de idade.

Embora morasse em Alenquer, Paim visitava com frequência a então vila de Curuá (atualmente município), lugar onde nasceu o seu pai, Olavo Pereira dos Santos. Essa foi a sua rotina de vida até os 19 anos. Em 1973, já com seus 20 anos, decidiu procurar por novos rumos. Seu primeiro e mais marcante destino depois de Alenquer foi a cidade de Manaus.
Primeiramente trabalhou como ajudante de pedreiro na capital amazonense. Ajudou a erguer muitas casas em bairros como Coroado, onde ele morava, Japiim e Armando Mendes. Depois, trabalhou nas ruas do Centro como camelô. Em seguida, conseguiu um emprego em uma granja, onde trabalhava cortando verduras.
Após o expediente de trabalho, Paim chegava às proximidades de um campo de futebol da empresa, onde seus colegas de trabalho estavam jogando. Sentava por perto e ficava com um violão nas mãos, posicionado para tocá-lo, apesar de pouco saber usar o instrumento musical.
Num desses dias em que ele sentava à beira do campo para tocar violão, seus colegas chamaram-no para jogar bola. Imediatamente aceitou o convite e as pessoas que o convidaram para o futebol não se arrependeram. Sua participação foi decisiva para conseguirem vencer a partida, além de mostrar um estilo diferenciado de jogador do meio de campo para o ataque.
Tornou-se um jogador tão importante que se destacou nos campeonatos de futebol entre as empresas de Manaus. Diante disso, foi também promovido na empresa onde trabalhava. Porém, ficou nesse trabalho durante dois anos, quando aceitou a oportunidade de se tornar um jogador de futebol profissional pelo clube Santa Fé, da TV Amazonas.
Mas o futebol não era tudo o que ele queria. Paim tinha outros desejos, entre os quais a música era o principal. Enquanto ele trabalhava ou jogava futebol, nas horas vagas dedicava-se em aprender a tocar violão e a cantar. Depois de quase três anos como jogador de futebol profissional, aceitou o convite de um amigo tecladista para se apresentar nos bares e restaurantes de Manaus.
Paim era fã da Jovem Guarda, movimento musical e cultural dos anos de 1960 e 1970, sempre tendo como referência os artistas Erasmo Carlos, Wanderléa e Roberto Carlos. Por essas influências, passou a se vestir igual a eles, deixando o cabelo crescer, usando calças pantalonas e camisas coloridas. Mas esse estilo de se vestir não era usado somente em suas apresentações noturnas. Vestia-se assim para passear ou mesmo durante o seu dia a dia.

Entre as décadas de 1970 a 1990, por onde Paim caminhava, fosse em lugares públicos ou qualquer outro espaço, passou a ser confundido com Roberto Carlos. Os cabelos e o estilo de se vestir faziam os manauaras chegarem até ele para pedirem autógrafos ou fazerem fotografias. Havia os que juravam se tratar mesmo de Roberto Carlos. Outras pessoas sabiam que não se tratava do artista capixaba, mesmo assim admiravam-se por ser tão parecido fisicamente.
Em Manaus, era conhecido pelo seu nome Francisco ou pelos agrados Chiquinho e Cabeludo. O apelido “Paim” era de uso exclusivo em sua terra natal Alenquer. Mas com a sua aparência que chamava a atenção das pessoas nas ruas, passou a ser conhecido pelas pessoas que o viam de “Roberto Carlos Amazonense”.
Roberto Carlos Amazonense era o artista da Zona Leste de Manaus. Tinha contato com diversos cantores da cidade, com participações musicais e apresentações diversas. Ele não precisava apenas se apresentar para encantar os corações das mulheres manauaras. Bastava a sua presença para delirar muitas fãs apaixonadas.
Certa vez, o grupo musical Menudo, de Porto Rico, iria se apresentar numa danceteria da capital amazonense. Porém, o grupo ainda não tinham chegado ao local. Estavam atrasados. Foi quando Roberto Carlos Amazonense entrou na danceteria, que o público, eufórico, o recebeu e todos gritaram: “Chegou o cantor!” A sua fama na época era mesmo incontestável.
Além de morar muitos anos no Amazonas, Roberto Carlos Amazonense também morou em Roraima. No ano 2000, retornou para Alenquer, onde voltou a ser chamado de Paim. Apesar disso, não perdeu a sua essência. Continuou se vestindo do mesmo jeito e, assim que passou a morar em sua terra natal, fez parceria com Zé Carvalho, cantando na orla, nos bares, nas festas de aniversário e comunidades do interior.

Paim passou a ficar famoso na música em Alenquer por conta do seu modo de se vestir e da forma cômica de se apresentar. Canta suas músicas alegremente, criando passos de dança que arrancam gargalhadas e admirações de quem o assiste. Por onde caminha, o artista é muito bem tratado tanto pelas crianças como pelos adultos e idosos.
Além de cantar e dançar, Paim compõe músicas. Entre elas, “Aviãozinho”, em parceria com um cearense chamado Pedro Bandeira. Uma música com ritmo de forró, em que a letra é divertida e refere-se a uma brincadeira infantil. No refrão dessa música, o artista gesticula com as mãos um avião em pleno voo.
Contudo, sua música mais famosa é “Marieta”. De acordo com o próprio cantor, a música também trata de uma brincadeira de criança, da época em que estudava catecismo. Os passos da dança são justamente os passos da brincadeira que ele recorda. Sempre que Paim se apresenta em qualquer lugar que está, geralmente os expectadores pedem a música “Marieta”.
Muitas vezes, fazendo parcerias com outros artistas locais, como Jorge Surubiú e Sidney do Arrocha, Paim se apresenta em comércios, bares, logradouros, entre outros.
Costuma cantar do seu repertório músicas da Jovem Guarda, forró, xote, carimbó, cúmbia, brega e pisadinha. Mais do que cantar, as pessoas que o assistem desejam vê-lo dançar e fazer suas coreografias diferenciadas, muitas vezes arrancando gargalhadas das pessoas que assistem, já que grande parte dos expectadores o procura pela figura cômica do artista.
Alguns acontecimentos tornaram-se marcantes na carreira de Paim, como a sua apresentação no Programa Conexão, na TV Ponta Negra de Alenquer, apresentada por Hilton Rodrigues em 2013 e na transmissão ao vivo feita pelo YouTube no dia 11 de agosto de 2020, a pedido de Léo Lima e organizada por JP Produções.
Atualmente, Paim é camelô nas ruas de sua terra natal, geralmente vendendo suas mercadorias na Travessa Lauro Sodré, esquina com Rua Capitão Antônio Monteiro Nunes, no bairro Aningal. Também costuma vender suas mercadorias nas praças das igrejas e nas comunidades do interior em épocas de festividades dos santos católicos.
Obviamente que nunca perdeu o amor pela música. Sempre que surge uma oportunidade, apresenta-se do jeito que todos conhecem e da forma que as pessoas desejam ver. É um dos cantores ximangos mais famosos que reside em Alenquer. O artista simples que não tem vergonha do que faz e que não se importa de levar seus ritmos, seus passos e sua alegria a todos que o assistem.
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