O comportamento de empresários santarenos não recomendável. Por Válber Pires

Publicado em por em Opinião, Política, Santarém

O comportamento de empresários santarenos não recomendável. Por Válber Pires
Avenida Anysio Chaves, bairro Aeroporto Velho, em Santarém (PA). Foto: JC

Fico sabendo que alguns empresários de Santarém (PA) estão a fechar seus estabelecimentos às segundas. É uma medida que mescla um radicalismo político e ideológico inapropriado e, por isso, não recomendado para empreendedores profissionais.

Vou ilustrar o que digo com uma experiência própria.

Há alguns anos prestei consultoria para um empresário que estava com alguns problemas sérios para resolver. Era época da campanha de 2018. Parte dos seus problemas passava pela falta de capital social, isto é, de relacionamentos eficientes e eficazes nas esferas de poder.

Ele estava engajado na campanha de um dos candidatos ao governo do estado e era declaradamente bolsonarista. Imerso no radicalismo de extrema-direita, queimou pontes com ocupantes de cargos decisórios.

Seu radicalismo ideológico ficou expresso já no início de nosso encontro. Quando cheguei ao restaurante para o encontrar ele estendeu a mão e, ao invés de se apresentar, perguntou de imediato: “tu vai votar no Bolsonaro, não vai?”. Aproveitei a oportunidade para lhe oferecer a primeira sugestão para resolver seus problemas. Então, perguntei:

— Diga-me, quantos anos tem a sua empresa? E ele: 16 anos.
Continuei:

— Ótimo, já é um bom tempo de caminhada. Agora, diga-me: se o seu candidato perder as eleições você vai querer fechar seu negócio?

— Não, claro que não, se eu te contratei exatamente para me ajudar a resolver esses problemas para não fechar minha empresa.

“Muito bem”, exclamei. “Agora, deixa eu te fazer outra pergunta: Tu sabes de quais partidos eram os políticos que estavam na famosa lista da Odebrecht?”

— Só sei que tinha gente do PT –, respondeu.

— Então, tinham políticos do PT, PMDB, PSDB, PL, DEM, PP etc. Ou seja, políticos da esquerda à direita. E essa é apenas uma parte da lista. Tem muito mais gente. Agora, tu sabes por que a Odebrecht é capaz de financiar políticos da extrema-esquerda à extrema-direita?

— Por que ela é uma empresa corrupta? – perguntou ele.

— Não, meu amigo. É porque ela é uma empresa pragmática, logo, não importa o político que vença uma eleição, ela estará bem, se relacionará bem, terá pontes com qualquer governo de qualquer tendência. Por isso esta empresa está há cerca de 80 anos prosperando no mercado brasileiro. E sabe por que ela age assim?

“Não”, acenou ele com a cabeça. E eu continuei

— É porque a lógica que move a ação do grande empresariado é bastante utilitária: sobrevivência no mercado, lucro, acumulação e geração de emprego. Para alcançar estes objetivos agem racionalmente, destituídos de ideologia e moralismos obscuros do tipo religioso.

O empresariado santareno precisa entender que esses radicalismos ideológicos e morais são apenas para manipular o comportamento político das massas por políticos profissionais. O empresário profissional, racional, precisa estar acima destas idiossincrasias ideológicas e, mesmo, saber utilizar deste jogo para alcançar seus objetivos fundamentais: sobreviver no mercado, lucrar, acumular e gerar emprego.

Jair Bolsonaro e o empresário Luciano Hang. Foto: Reprodução

Luciano Hang, por exemplo, declarado bolsonarista, extremista de direita, não fecha suas lojas. Pelo contrário, quanto mais concorrentes fecharem melhor para ele, que vende mais. Inclusive, já sinalizou querer se aproximar dos novos donos do poder, o que será difícil, dados os excessos que cometeu.

Empresários profissionais constroem pontes, fortalecem vínculos sociais, empresariais, profissionais e institucionais de todos os tipos, isto é, acumulam capital social, porque capital social – assim como capital cultural e humano – converte-se em capital econômico, oportunidades, facilidades, imagem positiva, boa percepção institucional, financiamento, parcerias, sobrevivência no mercado, lucro, riqueza etc.

Em síntese: empresários profissionais não têm ideologias, têm interesses, e agem racionalmente para alcançar tais interesses.

Nesta medida, a atitude desta parte do empresariado santareno é antiprofissional, irracional e chega a soar imatura. Nosso empresariado precisa aprender a ser pragmático.

<strong>Válber Pires</strong>
Válber Pires

É professor universitário, doutor em Sociologia, com pós-doutorado em Socioeconomia e Sustentabilidade. Escreve regularmente no JC.

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4 Responses to O comportamento de empresários santarenos não recomendável. Por Válber Pires

  • quem é empresário de verdade, sabe que R$ 1 de aumento no salário mínimo promove um rombo desgraçado na lucratividade. Ao invés de gastar uns milhões com diversão todo final de semana, será coisa de uns R$500.000, apenas. O que se queresmos aqui é o mesmo que esquerdista pratica, como na China: carga diária de trabalho de 18H e recebe apenas transporte e comida.

  • Assim como a massa é manipulada, esses potenciais empresários vão na onda. Fica clara a manipulação ridícula que sofrem. Com certeza, no alto comando da direita (não incluindo óbvio os “pobres de direita”) fazem piada com esses empresários. No fim do dia: eles são chacota, não diferente do cara do caminhão e daqueles que cantaram hino p pneu. O fomento à imbecilidade, ao ódio promovido nós últimos anos gerou esse tipo de pessoa.

  • Muito bom essa lógica de raciocínio, o JC deveria abrir espaço para pelo menos um vez na semana termos uma aula dessa, fui afetado pela lista de empresas do ” PT” como assim designaram bolsonaristas, porém somos uma microempresa para atender a todos, não importando crença, raça, ideologia partidária, pelo contrário, estamos abertos às parcerias para todos .

  • Corretíssimo professor, concordo plenamente em gênero, número e grau. Além do “zé carioca” que não fechou suas lojas, também não fecharam: Gazin, Magalú, Casas Bahia, Grupo pão de açúcar, JBS, Globo, Band, etc………………

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