S.O.S.
Mergulhei todo o meu ser num copo de vinho
Emergi do bacanal sem ter um caminho
De repente me vi só, náufrago de mim
Procurei ao meu redor teu lábio carmim
E me isolei na ilha do meu degredo
E busquei teu tesouro, teu segredo
Mas só encontrei a fonte do meu desejo
Só que agora já não tinha mais teu beijo
Vociferei teu nome aos quatro ventos
E tatuei meu corpo com teus sentimentos
Mas só havia a ressaca dos meus pesadelos
Nada mais lembrava os teus cabelos
E morri só, na ânsia que você pudesse
Responder ao meu grito de S.O.S.
Mas espero que um dia, enfim, recebas
A garrafa que joguei no mar e dela bebas
E te embriagues da saudade do amor eterno
E te afogues nas palavras desse meu inferno
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De Jota Ninos, poeta amazônico nascido em Belém e naturalizado tapajônico.
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Lindo poema, Jota! Parabéns!
Muito obrigado, Lorena. Agradeço sua presença aqui comentando novamente meus poemas.
Na minha modesta opinião, o poema narra a luta de um homem contra o alcoolismo
Pode ser uma leitura, simplista eu diria. Lembre-se que a base do poema é que por trás da embriaguez há uma mulher, e a solidão que ela provoca no poeta. Prefiro a análise do Literato. Esse Alan Poe que você usa como codinome não foi um poeta americano que morreu de tanto álcool? Será que isso o leva a ver um alcoólatra em todo poeta? kkkk
Jota,
Então você já alcançou o máximo da sua alma! brinco com as musas, mas sei que o sentir não necessariamente é o alcançado, o que torna tudo mais fascinante.
Continuo embriagada….rssss…e olha que tomo vinho com apenas 9% de alcool.
Abs,
Telma
Como disse Alma Cabocla: In Vino Veritas…
Jota, essa foi porrada… na moleira.
“Duca…”
Ouse sempre, como é de seu tino.
Floripa.
Valeu Floripa… melhoras pela dengue!
Jota Ninos,
Fiquei embriagada pela tua poesia! amei!
Não vou perguntar se tem musa….rsss…
Abs,
Telma
A musa do poeta é sempre etérea…
Jeso, como amante do vinho você sintetizou muito bem o poema. Mas eu vou além: trata-se de um libelo de metáforas poéticas que nos remetem principalmente ao vinho e ao mar, entrelaçados pelo amor dilacerante de uma mulher de boca carmim. Ele cita inicialmente um “bacanal”, palavra que se origina do nome do deus romano Baco, que por sua vez é uma cópia do deus grego Dioniso. Baco era o deus do vinho! (J. Ninos que é grego, me corrija se estiver errado…)
O eu-lírico do poeta navega em águas turvas da solidão. E é no vinho que ele “mergulha” de cabeça, mas a sensação depois da bebida é a frustração. Ele está só e busca encontrar a amada, numa torrente de desespero que vai do “grito aos quatro ventos”, passando pela “tatuagem de sentimentos no corpo” até o S.O.S. do título. Note-se que sonoramente, o S.O.S. já traz em si a solidão, como se o poeta estivesse a sós consigo mesmo…
O verso-chave que liga o vinho e o mar é: “Mas só havia a ressaca dos meus pesadelos”. A palavra ressaca tanto nos remete à ressaca das ondas do mar, numa ilha, como à ressaca do vinho (dependendo do vinho, haja pesadelo…rsrs). Belíssimo verso!
E os versos finais são de uma beleza singela indescritível: o eu-lírico do poeta meio que amaldiçoa a amada que o deixou e lhe envia pelo mar a garrafa que bebeu, levando-nos à imagem dos náufragos que enviam S.O.S. em garrafas. Mas ao invés de pedir socorro, quer que a amada “se afogue” em seu inferno! Um gran finale utilizando uma palavra que lembra o fogo em contraposição a toda a água e vinho que o poeta destilou no poema inteiro, mas que resume o astral de um náufrago embebedado. Náufrago de si mesmo.
Que belo porre poético, J. Ninos!
P.S. E se o Celson (que lida bem com poemas “líquidos”) musicar, aí vira obra-prima…rsrsrs
Análise inteligente, que joga mais luzes neste poema, repito, embriagador. Parabéns, O Literato.
Amigo Literato, gostei da análise. Bate com as intenções do poema… Só o título é que não fiz com a conotação que você deu, mas cabe bem… rsrsr Às vezes um poeta escreve algo que pode dar outras conotações diferentes do que imaginou. Abs.
Amor, amada e vinho – uma mistura explosivamente poética, com gosto de Merlot. Poesia embriagadora, Ninos. Parabéns!
JESO, e poesia náo se explica por si só, é indecifravel…., by Fernando Pessoa, AUTOPICOGRAFIA…
In Vino Veritas…..
Amigo, se quiser ser parceiro musical, aceito!
Tá combinado, Jota! Assim que eu ‘aterrisar’ (no sentido mais profundo da palavra) em Santarém, vou olhar para o teu texo com ‘outras notas’, certo?
Abraço,
Celson
Aguardo. Quem sabe surge uma grande parceria para outros projetos? Faz tempo que não faço nada pra música. Já participei de festivais (quando haviam) e até classifiquei algumas “modinhas”…rsrsrs
Jota, poeta ‘ajato’:
EXCELENTE o texto, parabéns! Acho que tem cara de letra de canção! Será que não …? 🙂
Grandea braço,
Celson