Diálogos de mim mesmo
Não sou nenhum dos outros
Que pareço carregar em mim.
Muito menos pereço
Do que penso ser
E do pouco que conheço
Do que penso estar…
Porque talvez haja alguém,
Que mal conheço,
Querendo se impor
Além do meu começo,
Além do meu fim!
Mesmo assim,
Careço conhecer
O muito que tenho
Ou penso ter, enfim…
É fácil ser
O que se pensa que se é.
Ou o que se quer parecer,
Um dia ser…
O difícil é não ser
Mais do que não se é!
Pois a eminência parda
De que padeço, do meu eu,
É mais do que mereço ser
Ou o que realmente sou…
E é mais fértil na imaginação
– Do querer ser –
O que os outros esperam,
Ou acreditam ver em mim…
Às vezes, quase até esqueço
Que sou o que sou
Porque é, o que devo ser…
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E se mais não sou
Tampouco serei
Menos do que não sou
Até que a morte
De que feneço, enfim,
Esclareça o que nunca fui…
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De Jota Ninos, poeta amazônico nascido em Belém e que se naturalizou tapajônico.
Leia também dele:
Corpoesia.
“Sou o q/ sou e não o q/ os outros querem” – esses dizeres são belos e fortes, tbm acarretam aos q/ o vivem um córte, e consequentemente a dor ( esta passageira ). Exponho por experiência própria.
Amigo não é aquele q/ vive de nhenhenhem, que so diz coisas doces p/ te agradar mas sabe ser franco s/ ser fdp.
Ser e ter são coisas bem diferentes.
Minhas amizades tem tem base no ser. O ter ajuda mas a base a solidez é o ser quem é.
O fulano é juiz, se dizia meu amigo, todas as vezes q/ me via era aquela frescurada toda de cumprimento meloso. Um dia ladrão entrou na minha casa à tarde e levou umas armas de fogo. Na noite seguinte a PM prendeu o chefe da quadrilha. No dia seguinte liguei p/ o Delegado da Civil e disse p/ ele devolver minhas armas. O delegado muito bacana explicou q/ ja tinha aberto o procedimeno logo tinha uma porra de uma burocracia a cumprir. O juiz tinha q/ autorizar pq algumas das armas não tinham documento. A autoridade era aquele q/ se fazia de meu amigão. Fiquei feliz . EsTava iludio.. Liguei p/ o tal e ele prontamente me atendeu. Expliquei o caso e disse q/ queria minha coleção de volta. O juiz mandou eu fazer o procedimento. Disse q/ da pistola automática e da 20 eu tinha tudo documentado mas q/ a submetralhadora, do 38 e o revolver de dois canos antigo eram herança do… enfim expliquei o caso. O juiz mandou EU cumprir a lei. Cumpri. Me fu** todo naquela época mas daquele dia em diante aquele homem estava riscado da minha lista verde. Sabe o ditado – ‘ p/ os amigos tudo, p/ os inimigos a lei’. Ele é amigo de qualquer um, menos meu. Se depender de mim ele se explode . Até hj ve a cara daquele hipocrita me dá náuseas, ainda mais quando lembro q/ …. .
Tem muita gente q/ se intitula de amigo mas só da boca p/ fora. Numa pisadinha fora da linha te lasca. C/ amigo desse tipo não se precisa de inimigo.
Ser verdadeiro ser franco ser fiel são coisas muito diferentes. Cada um tem seus méritos. Todos juntos numa pessoa só é uma preciosidade incalculável.
Ser falso fingido hipocrita é muito comum hj em dia.
Ser amigo nas hrs boas é fácil demais.
Às vezes deixamos o nosso diálogo de lado, pelo medo de aparecer o nosso “eu verdadeiro”, esse talvez mais interessante, mais fascinante, e trocamos a essência pelo verniz social, como diz o mestre Jeso, camadas de tintas que nos camuflam e nos tornam infelizes. Parabéns ao poeta Ninos e ao Jeso pelo comentário.
Obrigado Maralice.
Ninos, a leitura deste teu poema me remeteu a Fernando Pessoa. Essa busca angustiada do âmago, sem as casacas do que cada um de nós é, sem as camadas de tintas do que a sociedade nos obriga a ser, sem os subterfúgios a que nos impusemos a ser, levou-me ao poeta português. Sem obter resposta convincente para esse “quem sou eu”, Pessoa se esfarelou em heterônimos. Foi a sua salvação. Do contrário, enlouqueceria. Parabéns, Ninos!
Jeso, este não é o único poema existencialista que produzi. Aqui mesmo já foram divulgados alguns destes, como:
Poheresia :https://www.jesocarneiro.com.br/arte/poetas-amazonicos-88.html#respond
E(u)legíaco: https://www.jesocarneiro.com.br/arte/poetas-amazonicos-60.html#respond
Insanidade: https://www.jesocarneiro.com.br/arte/11223.html#respond
Degredo: https://www.jesocarneiro.com.br/educacao-e-cultura/poetas-amazonicos-14.html#respond
Além do poema Espelho, cujo link já não existe (creio que faz parte daquelas páginas perdidas do blog, quando da sua reestruturação), mas que em breve remeterei novamente para publicação.
Não é a primeira vez que você e outros (vide comentários nos links acima), comparam minha poesia com as de Pessoa. Fico lisonjeado e acredito, como você já disse em outra ocasião, que essa necessidade dos poetas olharem dentro de si cria a oportunidade para que cada um também tenha seu espelho, não apenas para o olhar narcísico, mas principalmente para o olhar edipiano, aquele que é capaz de se cegar diante da constatação de que ninguém é perfeito, nem mesmo um rei como Édipo, a tragédia em pessoa da mitologia grega…