Não era da minha conta. Por Jorge Guto

Publicado em por em Arte, Crônica

Não era da minha conta. Por Jorge Guto
"Passo que tentei quatro vezes, e nada...". Foto: Reprodução

Uma senhora que não conheço me interpelou muito objetivamente, sem cerimônias, e foi me pedindo ajuda para um problema que precisava resolver. Que objetividade! ela era pura, simples, pobre. 

Acho que isso gera objetividade. Eu precisava ligar para um número, cuja pessoa jamais eu saberia de quem se tratava. Sacou da bolsa um papel com o número escrito com caneta bem azul. 

Bem, era ex-esposo dela, que estava no hospital, e ela veio de longe para vê-lo. Não o encontrou. Imediatamente fui útil para alguma coisa. Mas a ligação não completava. Passo que tentei quatro vezes, e nada. Eu logo desisti, eu sou de desistir, apesar da vida tá o tempo todo me mostrando que não é o melhor caminho. 

Leia também de Jorge Guto:
O que o lúdico me impõe…
As cartas.
Retirante, Santa Catarina.

Enfim, para aquele era. Ora, o que poderia fazer?? Mas subitamente me pediu que ligasse numa chamada via WhatsApp. Por essa eu não esperava. Obedeci e atendeu uma mulher de nome Fátima. Sim, era a Fátima que explicou então que Dona Isabel voltasse pra casa, ele recebeu alta, já em casa, estava tudo bem.

Ela então me agradeceu, na verdade, as duas, uma ao meu lado, outra numa ligação whatsApp. E uma se foi, a outra desligou, me deixando com mil e uma perguntas no ar. Eu poderia retornar a ligação e cobrar já que me colocaram naquela história, me dizer logo no que mais poderia ajudar ou a título de ficar apenas sabendo o que aconteceu. 

A vida da gente é essa linha tênue entre privado e a depender do caso, algo que se pega um pequeno capítulo dela e se joga na cara de qualquer desconhecido de esquina. Eu hein! 

Essas nunca lembrarão de mim, e eu depois que acabar de me aproveitar desse fato para esse meu “ofício” ou passatempo, creio que se continuar pensando nelas, será por pura birra de quem foi obrigado a saber do que não era da minha conta.

➽➽ Jorge Augusto Morais, o Jorge Guto, é santareno, formado em direito e aprendiz da crônica reflexiva, em prosa, influenciado por uma tia, professora de literatura brasileira. Desde criança lê contos e escreve sobre dramas humanos universais, tendo como cenário uma Amazônia que pode estar na informalidade e no inusitado.


— O JC também está no Telegram. E temos ainda canal do WhatsAPP. Siga-nos e leia notícias, veja vídeos e muito mais.


Publicado por:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *