O que o lúdico me impõe… Por Jorge Guto

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O que o lúdico me impõe… Por Jorge Guto
"Gosto das profundezas, o raso como já viram nem sempre me atrai". Foto: Reprodução

Tenho um desenho que me persegue mentalmente, e toda vez que sou compelido para desenhar, lá estarei representando. Uma ilha, um sol num céu azul com alguns urubus, digamos assim, e em terra firme, uma palmeira, talvez um coqueiro, e uma água revolta, um mar, com um barco singrando, não sei se partindo ou querendo chegar. 

Quando li a “Ilha do Farol” de João Ubaldo Ribeiro, lembrei um pouco dessa perseguição mental, mas não vi muita conexão com aquele solitário personagem, exilado por razões políticas, amoral. Pera aí, me resta uma ordem moral suficiente pra não ser tão progressista e muito menos autodeclarado “conservador”.

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Desculpem se decepcionei ambos os lados, mas acho a revolução na sua natureza sempre muito exagerada, e no querer conservar, a confusão de ser mesmo o mais grave revolucionário um necessário e grande conservador. 

Então prefiro por esse momento nem me ater nisso. Juro que sou “culpado” ou ocupado demais com o prosaico, o simples dos movimentos diários de vidas, que por sua vez não podem ter maior influência que poder abrir as janelas dos seus cômodos, e olhar para fora sem sequer um segundo deixar de olhar para dentro. 

Voltando ao meu desenho, não tem graça se uma terapia, um atendimento clínico, psicológico, se meter nisso e desvendar com a frieza da psicologia, o que está por trás desse tal gráfico…

Talvez eu só deva continuar desenhando quando uma atividade lúdica se impor, e criar novas figuras, ainda que numa ilha, tipo Miami. Sem tubarões, caso algum morador de país vizinho precise se lançar ao mar, um pedaço de terra tipo o meu coração, que até cabe tanto nele e ele é que muitas vezes não cabe no mundo. Meu Deus!

Isso ficou precipitado demais. Acho que irei afundar a ilha, e passar para o patamar de ilha amazônica, provisória, subitamente arrastada por uma força de água barrenta, turva e que potente, puxa tudo para o fundo.

Gosto das profundezas, o raso como já viram nem sempre me atrai.

➽➽ Jorge Augusto Morais, o Jorge Guto, é santareno, formado em direito e aprendiz da crônica reflexiva, em prosa, influenciado por uma tia, professora de literatura brasileira. Desde criança lê contos e escreve sobre dramas humanos universais, tendo como cenário uma Amazônia que pode estar na informalidade e no inusitado.


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