
A ação policial no Rio de Janeiro foi bárbara, mas o contexto de criminalidade extrema no qual a cidade está mergulhada e que se espalha para todo o Brasil precisa nos levar a uma reflexão mais séria sobre a necessidade de uma política de segurança pública mais contundente contra o crime.
Assim como a direita erra ao se opor às políticas sociais, a esquerda erra ao se opor a políticas de segurança mais contundentes. A tese segundo a qual a criminalidade é fruto, fundamentalmente, da falta de oportunidades sociais é uma meia verdade.
∎ De Válber Pires, leia também: Mulheres e homens: a criminalização das relações e a solidão humana.
Se assim o fosse, os diversos programas sociais, a política educacional, trabalhista e a ampliação das oportunidades sociais que esse pacote de investimentos sociais no Brasil proporciona já teria levado a uma queda proporcional da criminalidade.
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Mas o que se vê são as facções cada vez mais fortes, criminalidade em alta, jovens sem querer estudar, sem querer trabalhar e entrando cada vez mais no crime. Isso não é falta de oportunidade, é porque o crime oferece possibilidade de ascensão material e, a depender do contexto, social mais rápida e fácil.
Por isso, a esquerda precisa parar com esse discurso romântico e, como tal, ingênuo de luta de classes e falta de oportunidade social e cair na real: o que move o crime é a mesma ambição patológica das elites econômicas mais selvagens, só que de forma piorada, porque não existe nenhuma institucionalidade para regular e frear essa atividade.
Nesse sentido, é imperativo passar a apoiar uma política de segurança mais forte contra a criminalidade fora de controle no país. Oportunidades sociais estão sendo ampliadas, mas está claro que só política social não vai frear e resolver esse problema que ameaça a sociedade.
Tanto esquerda quanto direita perdem votos por conta de suas posições radicais, mas, com a criminalidade fora de controle, a esquerda tende a perder para os discursos e políticas mais radicais porque, como ensinam os contratualistas Thomas Hobbes e John Locke, acima de qualquer bem, as pessoas zelam mais pelo bem da vida, da propriedade e da liberdade, exatamente o que elas mais sentem estar ameaçado com o fortalecimento da criminalidade.
E outra lição importante do contratualista Thomas Hobbes é esta: em determinados momentos, somente a força civiliza.


∎ Válber de Almeida Pires, paraense, é doutor em sociologia. Escreve regularmente no JC. Leia também dele: Perigo: médicos brasileiros se declaram negacionistas e terraplanistas. E ainda: O poder evangélico nas investidas sobre os conselhos tutelares. E mais: A decisão de Moraes contra o estado de natureza.
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