
Hoje o meu artigo falará novamente sobre um tema muito triste para mim, mas que é necessário que falemos nele, feminicídio. Nesse artigo vou focar na estrutura e não nas leis.
Com certeza, ao longo de sua vida, você já ouviu a expressão “o machismo mata”. Mas a verdade é que poucas vezes paramos e nos perguntamos o que está por trás da morte violenta de uma mulher.

Só nesse último final de semana em nosso estado três mulheres foram mortas vítimas de feminicídio, foram assassinadas só por dizerem não, só por seu gênero, só por serem mulheres.
A violência do feminicídio é estrutural e não apenas individual ou patológica, pois o que move esse ódio é acima de tudo a manutenção da dominação masculina.
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Essas mortes não são casos isolados ou episódicos, mas estão inseridas em uma cultura na qual a sociedade neutraliza e normaliza a violência de gênero, além de limitar o desenvolvimento livre e saudável de mulheres e meninas.
O protagonismo do machismo é latente, paira sobre os homens um sentimento de posse sobre a mulher e seu corpo. Os efeitos são diversos. Além dos gravíssimos episódios de feminicídio, os reflexos são sentidos economicamente no campo profissional, entre outros.
A gente tenta entender o porquê de tanta crueldade contra as mulheres. Podemos encontrar respostas em nossa cultura patriarcal e misógina, mas não devemos esquecer a negligência do Estado.
O Estado pode ser responsabilizado pelas vidas interrompidas, sim. Fatores como a não efetivação dos direitos previstos nos marcos legais, não implementação de serviços de atendimento especializados, a aceitação e naturalização de hierarquias de gênero e raça e a banalização de uma série de violências anteriores pelas próprias instituições do Estado concorrem para a continuidade de violências que estão nas raízes do feminicídio.
Antigamente se falava dos crimes de honra, passionais, o comportamento da mulher era utilizado para justificar o comportamento abusivo e agressivo do homem. Hoje, a mulher tem uma gama de ações que antigamente não tinha: ela sai pra trabalhar, tem mais espaço na sociedade. E, com isso, os homens não conseguem aceitar e acabam tendo atitudes que as punem por essa liberdade maior.
A palavra “feminicídio” se refere ao assassinato de mulheres e meninas por questões de gênero, ou seja, em função do menosprezo ou discriminação da condição feminina.
Feminicídio é a mais grave forma de violência contra a mulher, tendo esse termo sido usado pela primeira vez por Russell em 1976, com o objetivo de chamar atenção e retirar a invisibilidade de assassinato de mulheres.
Segundo levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os casos de feminicídio aumentaram em 22% no país. O Estado onde a situação mais se agravou foi no Acre, com um crescimento de 300%.
No Pará, teve um aumento de 100%. Mesmo com a violência em alta, o Tribunal de Justiça negou a renovação automática de medidas protetivas durante o isolamento social.
“Colocar uma mulher desse nível pra nos representar só mostra o quanto temos um presidente misógino e que nos odeia”
Quando vemos esses dados percebemos o quão é difícil ser mulher nesse país e o quanto estamos abandonadas pelo Estado.
Quando eu lembro da nossa representante na pasta da mulher no governo federal tenho um misto de revolta e vergonha. A senhora Damares, Ministra da Mulher, não tem capacidade técnica de ocupar esse posto e isso já foi mostrado.
Não apresentou politicas públicas voltadas para a nossa classe, já chegou a afirmar que as meninas do Marajó era estupradas porque não usavam calcinhas, entre outras sandices que me nego a escrever. Isso é lamentável, estamos em quinto em taxa de feminicídio no mundo e somos o país na América Latina que mais mata mulheres.
Colocar uma mulher desse nível pra nos representar só mostra o quanto temos um presidente misógino e que nos odeia. Ressalto que a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil, mais de 500 sofrem agressões a cada hora e 13 mulheres são assassinadas por dia.
A violência doméstica está mais privada do que nunca. A mulher que vive com um agressor já vivia isolada, agora ela está praticamente em cárcere privado. Durante a crise sanitária, muitas mulheres estão confinadas com o agressor, sem poder sair de casa e, além disso, muitas vezes em condições precárias e desempregadas.
Além disso, a nossa cultura, infelizmente, ainda se conforma com a discriminação da mulher por meio da prática, expressa ou velada, de misoginia. Isso causa a objetificação da mulher, resultando em casos cada vez mais graves de violência.
É importante que todos e todas nós possamos falar de gênero, pensar sobre as opressões de raça e classe. Assim como nós aprendemos por conta dessas estruturas que estão aí, a produzir práticas machistas, racistas e classistas, nós podemos também desaprender, para que a gente possa construir um mundo onde todas as pessoas possam viver com dignidade. É preciso que a gente fale de vida, ao invés de falar somente de morte.
Outra forma de propor mudança é incutir na sociedade o pensamento de que não há justificativa para os crimes de feminicídio. Os agressores não podem encontrar o apoio na sociedade para o que fizeram, porque não existe justificativa para agredir ou matar alguém. Não se muda a cultura de uma sociedade de um momento para outro. Mas a conscientização precisa ser difundida.
É importante e urgente que a sociedade, a escola e a igreja debatam sobre esses temas. A violência de gênero, típica da cultura patriarcalista, tem por base a divisão sexual do trabalho, que tolera que o homem use de violência para corrigir comportamentos femininos contrários aos papéis esperados de mulher submissa. A vítima é vista como culpada pela agressão que sofre por seu comportamento inadequado. A sociedade não pode mais tolerar esse tipo de coisa.
É urgente a efetivação de políticas públicas para as mulheres, a prevenção, debater machismo nas escolas, lutar contra o preconceito e todas as opressões raciais e sexuais para prevenir a violência de gênero.
Ainda sonho com uma sociedade onde as mulheres viverão em paz e terão suas escolhas respeitadas e que não precisem morrer por isso.
— * Regiane Pimentel é assessora do DEM, bacharel em direito, feminista e ativista social. Reside em Santarém (PA). Escreve todos os domingos no blog sobre feminismo.
LEIA também de Regiane Pimentel:
↳ Machismo estrutural institucionalizado pelo STJ
↳ Vamos falar de consentimento. Mas que fique claro: não é não
Excelente texto , realmente precisamos de uma educação para orientar as crianças desde cedo de que nada justifica agressão e a morte de mulheres .