por Gilberto César Lopes Rodrigues (*)
Vivemos um momento importante em nossa região. Por um lado a possibilidade de emancipação política, econômica e administrativa das decisões de Belém. Por outro, a concretização da implantação da Universidade Federal do Oeste do Pará, a UFOPA. De nosso ponto de vista, ambos trazem a tona uma discussão importante sobre desenvolvimento e o momento é oportuno para um debate aberto e responsável sobre se estes dois eventos realmente significam desenvolvimento para a população do oeste do Pará.
No entanto, apesar da importância da criação do estado do Tapajós, abordarei aqui a implantação da UFOPA. Particularmente a questão: a implantação dessa universidade, sobretudo seu modelo de progressão acadêmica, trouxe avanços para a formação de professores no oeste do Pará?
Muito foi especulado sobre o atual modelo acadêmico-pedagógico implantado na UFOPA. Especulava-se que ele era inovador por ser interdisciplinar e que traria desenvolvimento para a Amazônia. Porém, o fato novo é que, concluído o primeiro semestre da implementação do modelo, temos números para refletir sobre estas especulações.
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Do ponto de vista econômico, é certo que as cidades diretamente atingidas pela chegada da UFOPA aumentaram suas atividades comerciais e empresariais. Chegaram novos professores, funcionários e alunos de diversas partes do país que demandaram mais dessas atividades econômicas, gerando maior receita, tanto para os comerciantes, empresários e como maior arrecadação por parte dos municípios.
Por outro lado, do ponto de vista intelectual intensificam as ocasiões de realizações de seminários, debates, conferências, jornadas acadêmicas em nossa região que, inegavelmente, trazem benefícios para a região. Neles pesquisadores e estudiosos do Brasil e do mundo ficam acessíveis à população local em um espaço público para troca de conhecimento. É lugar comum encontrar nas universidades federais eventos desta natureza.
Todavia, os números relativos ao ingresso dos alunos no Instituto de Ciências da Educação apontam que, ao contrário do que foi divulgado pela administração superior da universidade, o modelo de progressão acadêmica que está sendo implementado na UFOPA representa um retrocesso na formação de professores. Basta, para consolidar nosso argumento, o fato de que mais da metade das vagas disponíveis para o instituto que abriga as licenciaturas ficaram vazias.
Tampouco somos favoráveis ao regime anterior, onde o aluno disputava diretamente a carreira que desejava seguir. Mas é fato que no antigo regime as vagas das carreiras do magistério quase sempre ficavam totalmente preenchidas.
Porém, para melhor compreensão de nosso argumento é preciso fazer um resgate do modelo de promoção acadêmica em implantação na UFOPA. Em resumo, neste modelo, entram mil e duzentos alunos na universidade, via ENEM, para o Centro de Formação Interdisciplinar. Uma espécie de ciclo básico, porém, com o particular de os alunos ainda não terem curso definido.
Após um semestre de aulas os alunos “escolhem” (lembrando que escolhe primeiro o aluno com maior nota no Índice de Desenvolvimento Acadêmico – IDA) um dentre os cinco institutos da universidade. Então o aluno ingressa em um dos cinco institutos da UFOPA. O aluno ainda não tem curso definido. Porém, já poderá estar no instituto que abriga o curso de sua preferência, desde que seu IDA permita a escolha dessa preferência (vale lembrar que quarenta por cento do IDA é composto por uma prova de múltipla escolha aplicada no mesmo dia, local e horário para todos os alunos, semelhante a um vestibular).
Assim, decorrente deste modelo e sob os argumentos (que não examinarei sua pertinência aqui) de que os jovens são imaturos para escolher sua futura profissão, de que é preciso ter uma base interdisciplinar antes desta escolha, etc., mil e duzentos alunos ingressaram na UFOPA sem saber qual sua futura profissão!
No entanto, os números referentes à concorrência dos vestibulares de todo o país apontam que há carreiras que são historicamente mais concorridas que outras. Sendo assim, as carreiras mais concorridas, por exigirem mais empenho dos candidatos para serem aprovados, fazem com que estes absorvam mais conteúdos do que aqueles que intencionam carreiras historicamente menos concorridas.
Não examinarei à questão da meritocracia ou do esforço individual, mas decorre deste fato que, dentre os ingressantes da UFOPA, houveram mais alunos que escolheram por cursos de carreira mais concorridas, uma vez que foi exigido dos candidatos uma preparação mais forte. Por exemplo, apesar de o curso de Direito disponibilizar quarenta vagas, os números comprovam que ingressaram na UFOPA muito mais do que este número, uma vez que, este curso exige mais dos seus candidatos.
Assim, após um semestre de estudos como aluno regular da universidade muitos que escolheram a advocacia como profissão terão que escolher outra carreira ou abandonar a UFOPA.
Por outro lado, ser professor pouco é estimulado no Brasil, sobretudo dentre os adolescentes que compõem o universo de estudantes secundaristas. Baixos salários, condições precárias de trabalho, violência no ambiente escolar, etc., poderiam explicar este desestímulo. Fato é que tal desestímulo acarreta menor concorrência entre os vestibulandos para os cursos de licenciatura. Decorre daí que um menor número de ingressantes que desejavam cursar carreiras do magistério compôs o universo de alunos ingressantes na UFOPA.
Examinando os números relativos à saída dos alunos do Centro de Formação Interdisciplinar e ingresso nos Institutos, os números denunciam que das trezentas vagas disponíveis no instituto no qual as carreiras do magistério estão vinculadas, o Instituto de Ciências da Educação – ICED, apenas cento e quarenta foram preenchidas. Ou seja, decorrente deste modelo de progressão acadêmica, cento e sessenta vagas das carreiras do magistério não foram preenchidas. Com isso, os números comprovam que o atual modelo de progressão acadêmica em implantação na UFOPA diminuiu mais ainda o ingresso dos jovens nas carreiras do magistério.
Sendo assim, do ponto de vista da formação de professores o sistema de progressão acadêmica implementado na UFOPA não constitui desenvolvimento para nossa região. Pelo contrário, constitui retrocesso.
Neste sentido, gostaríamos de publicamente questionar para quem o sistema de progressão acadêmica em implantação na UFOPA, alicerçado em um entendimento superficial de interdisciplinaridade, constitui desenvolvimento. Aproveito para solicitar esclarecimento público desta questão uma vez que ela diz respeito a toda população do oeste do Pará uma vez que ela pode estar sendo prejudicada por, possivelmente, haver no futuro menos professores formados por uma instituição federal de ensino superior para educarem seus filhos.
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* É professor da UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará)/
Como estou na minha pesquisa exatamente delineando alguns escombros que o péssimo ensino de matemática tem provocado no curso de engenharia da UFPA, aproveitei para falar um pouco disto transbordando para o social. Eis o que relato que se complementa com o que vai anexo:
¨E o maior de todos agora se desenha, via a divisão do Pará. No começo dos anos 90 estive em Santarém ministrando disciplina e pelos os corredores exalavam o inconcebível: gente com cargo de docente discursando que enquanto não houvesse o Estado do Tapajós, o campus só iria receber de refugo ao rebotalho do campus de Belém. Obviamente que tudo estava sendo feito com a plena anuência da cúpula da reitoria, bem como determinado estava que por mero interesse político esses preferiam considerar-se parte dessas impropriedades do que ter postura de interesse pela educação.
De fato, desprezo e até leniência pela assistência estudantil – garantia de alojamento, comida, livros e bolsa para todo aluno carente – sempre foi comum pelo Brasil, mas no Pará, pela sua imensidão e condições sociais, sempre tornou estudar na UFPA/Belém fator de desigualdade absurda entre os estudantes paraenses. Assim como, haver isso em quantidade razoável não anularia toda necessidade da interiorização. Entretanto, até mais do que desenvolvê-la, abusar dessa situação por tais interesses e como fonte de ganho extra, sempre foi um ato dos mais escandalosos da história da educação paraense.
Lembrando que sou cearense, fator que pede moderação nisto, agrava-se pela minha condição de docente, a qual exige que não deixe algum aluno ser induzido ou se auto censurar em função da minha posição. Além disso, educação de qualidade torna nenhum assunto proibitivo, porém exige cuidado para não resvalar para situação mais trágica. Menos ainda, como nesse caso, quando há outras, e embora aparentemente distante, como é o caso da internacionalização da Amazônia, que podem aflorar com mais vigor.
Logo, o que reclamo é do fracasso patente e até construído pela UFPA, portanto, todos nós agora, por não ter historicamente atuado de forma que o debate fosse respaldado com um pouco mais de educação de qualidade, já que os sentimentos sinceros de cada grupo precisam ser respeitados.¨
ENTIDADE FAZ CURSO COM CONDENADO POR PLÁGIO
https://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=78939
https://www.rc.unesp.br/ib/dta/Portarias2008/Pt025-2008.doc
https://cienciabrasil.blogspot.com/2011/07/um-recado-que-acabo-de-receber-de-um.html
Uma primeira versão do projeto UFOPA que li constava equipar todas as salas para transmissão online de todas as aulas visando dois grandes objetivos;
a) o aluno poderia assistir, não sendo possível comparecer, aula de casa;
2) jovens que estivesse interessado em algum curso ir se acostumando com os conteúdos.
Pelo visto isso foi abandonado, o que é uma pena, posto que, ficaria no mesmo nível de Harvard. De fato, essa já nasceu tão velha tanto quanto as demais sempre foram.
escolão de terceiro grau !!!!
Sou formado pela ufpa em matemática no ano de 2006 aqui mesmo por santarém, e durante todo o meu curso sempre sofri preconceito por ter optado por uma licenciatura.Naquela época letras , matemática e pedagogia eram os menos procurados, sempre sobravam vagas para repescagem, os mais concorridos eram direito e sistema de informação.A procura pelas licenciatura sempre esteve em baixa,isso não é de agora por causa da UFOPA, a baixa na licenciatura e um problema de todo o país. Todos querem ser advogado , médico , engenheiro ou analista e sonham que seus filhos também sejam devido principalmente ao prestigio social e a ilusão de que sairam da universidade já empregados .Mas ninguem quer ser professor para ter que trabalhar horas por dia e ainda ter um salário miserável.Eis o motivo pela baixa procura pelas licenciaturas . Não culpo o modelo da ufopa pois na ufpa acontece a mesma coisa assim como em outras universidades também. Seguem um link para conhecimento de todos. https://blogln.ning.com/forum/topics/a-agonia-da-licenciatura
Minha impressão é de que é cedo para uma avaliação melhor e precisa acerca dos resultados de desenmvolvimento promovidos pela UFOPA. Penso até que essa avaliação não deve ser feita apenas considerando a UFOPA, mas todas as Universidades Publicas que atuam em Santarém e região e mais as Universidades particulares. Vejo que uma avaliação séria desse conjunto de esforço da formação, extensão e pesquisa universitaria não deve prismar apenas pela lógica de avaliarmos o esforço público, mas o privado também, proque de alguma forma recebem incentivos e beneficios do governo com recursos que são publicos para fazser formação paga. Minha impressão é que todaas as universidades funcionam muito distante da realidade do povo – formação, pesquisa e extensão – ainda é um processo que é feito desligado das reais necessidades da região e da população que aqui mora. Por isso, analiso que a conquista da UFOPA foi um grande avanço para a região. O processo pedagógico lá instalado ou em processo de execução é interessante e precisa de tempo para ser consolidado e a gente poder ter condições de avaliar com uma melhor precisão. De qualquer forma concordo com essa indagação de avaliarmos efetivamente qual é o resultado para o desenvolvimento da região que as instituições universitárias estão promovendo e como é que a população está percebendo isso.
O MODELO ACADÊMICO DA UFOPA OU QUEM QUER SER PROFESSOR?
Primeiro estranha-se.
Depois entranha-se.
Fernando Pessoa
A partir de 05 de novembro de 2009 a região Oeste do Pará tem convivido com a primeira universidade pública criada no interior de um estado amazônico. A UFOPA chegou trazendo perspectivas de desenvolvimento econômico, científico e tecnológico e no campo da formação de professores a possibilidade de correção de assimetrias históricas no que tange à eliminação da figura do professor leigo.
Este texto não pretende dar respostas à problemática que envolve a formação docente na nossa região, tampouco fazer uma defesa do modelo acadêmico adotado pela UFOPA, embora meu posicionamento em si possa assim ser entendido por estar pro tempore na Diretoria de Ensino da PROEN, mas tão somente trazer uma reflexão possível sobre a questão que envolve o ingresso dos estudantes no semestre interdisciplinar do ICED e a carreira docente.
O ingresso na UFOPA se dá por meio do ENEM, prova aplicada em todo o país que através de eixos cognitivos avalia a apreensão de objetos de conhecimento das matrizes de referência do exame. As matrizes de referência são: ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; linguagens, códigos e suas tecnologias. O ENEM em si já apresenta um desafio aos professores do ensino médio uma vez que o aluno não tem que dar respostas mecânicas às questões colocadas, mas tem que dominar linguagens, compreender fenômenos, enfrentar situações-problema, construir argumentações e elaborar propostas. Vejo o ENEM como uma avaliação possível dos anos finais da educação básica, nível de ensino que precisa ser pensado e reformulado.
Na UFOPA foram matriculados os alunos com as melhores notas do ENEM (777.58 a maior média e 576.96 a menor média) que foram distribuídos em vinte e quatro turmas ao longo do primeiro semestre interdisciplinar. O percurso acadêmico, que não foi determinado apenas pela avaliação final de formação que representou 30% do Índice de Desempenho Acadêmico, envolveu diferentes formas de monitoramento do rendimento discente inclusive com um módulo de interação com a base real (IBR) que pressupunha, entre outras coisas, o resgate dos conhecimentos desenvolvidos na universidade e na vida para a “elaboração de propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando valores humanos e considerando a diversidade sociocultural” (MEC/INEP, Matrizes de Referência para o ENEM, 2009) a exemplo do preconizado pelas matrizes de referência do ENEM para um de seus eixos cognitivos.
Em decorrência de seu rendimento e de uma das três opções de Instituto que realizou, o estudante seguiu para o segundo semestre interdisciplinar já em um dos cinco Institutos da UFOPA, a saber: Instituto de Ciências da Sociedade, Instituto de Biodiversidade e Florestas, Instituto de Ciências da Educação, Instituto de Ciência e Tecnologia das Águas e Instituto de Engenharia e Geociências. No que se refere ao Instituto de Ciências da Sociedade, no qual está o curso de Direito, havia um discurso recorrente de que seria o Instituto mais concorrido, todavia não foi o que aconteceu, sendo superado em demanda pelo Instituto de Biodiversidade e Florestas.
O ICED ofereceu trezentas vagas das quais cento e quarenta foram preenchidas até o momento. Digo até o momento porque mais de vinte alunos estão solicitando transferência para este Instituto devido oferecer turmas noturnas e, obviamente, vagas.
Este fenômeno de opção de um curso tendo em vista o número de vagas e turno de oferta também é presenciado nos processos seletivos de outras instituições de ensino superior, uma vez que muitos estudantes trabalham e não tem outra forma de conciliar sustento e qualificação profissional. Ao contrário do que muitos afirmam, não foi o modelo acadêmico da UFOPA que determinou o número de opções pelo Instituto de Ciências da Educação, mas o contexto social no qual a profissão está inserida.
No antigo Campus da UFPA de Santarém houve anos em que ingressaram nas licenciaturas muito menos alunos que o número de vagas oferecidas. Veja o exemplo do próprio curso de pedagogia em 2007 no qual foram aprovados apenas 11 alunos das cinquenta vagas oferecidas e dos cursos de química e física nos anos 90 do século XX em que havia vestibulares que aprovavam 3 alunos. Nesses casos dá pra dizer que o modelo de ingresso adotado pela UFPA é que limitava a formação de futuros professores?
A opção por uma profissão é influenciada por diferentes fatores, entre eles o prestígio social, as condições de trabalho, a valorização profissional e sua consequente recompensa financeira. No caso da profissão docente este quadro pode ser revertido a partir de políticas públicas que recoloquem os professores em patamar superior de valorização e de reconhecimento profissional.
A docência tem sido permeada por jargões preconceituosos e depreciativos tais como o amplamente divulgado por Bernard Shaw de que “quem sabe faz, quem não sabe ensina”. Isso é um insulto aos professores. Prefiro pensar como Shulman que rebateu a afirmação de Shaw e afirmou que “quem sabe faz, quem compreende ensina”.
Como formadores de professores, os professores universitários devem se colocar a responsabilidade de revelar a complexidade e riqueza do ensino e combater o senso comum de que ensinar é fácil. Devem do mesmo modo, combater a dispersão à profissão docente e entender que os problemas da educação e da profissão docente não se resolvem apenas no interior da escola e/ou da universidade.
Desse modo, não se nasce professor, se forma professor. Então o curso de formação tem que dar a qualidade necessária para que bons professores retornem à sociedade. Assim, se há uma relação direta entre qualidade e quantidade, como afirma uma das leis da dialética, vale então a pena lembrar que o ICED da UFOPA possui 84 professores, dos quais 29 são doutores e 48 mestres. Com um conjunto de docentes deste porte não há porque duvidar que daqui a alguns anos teremos formado os melhores professores da região porque acredita-se que o quê o professor universitário faz na sala de aula contribui para determinar o perfil do profissional que ele formará (LORTIE, 1988).
É precoce toda e qualquer avaliação sobre o modelo acadêmico da UFOPA e seu reflexo na opção profissional especialmente no que tange à docência como profissão. No campo educacional toda reforma e/ou inovação é lenta e dá-nos a impressão de que se caminha com “botas de chumbo” (MIZUKAMI, 2009). Só o tempo dirá.
Primeiro estranha-se
Depois entranha-se
E estranha-se de novo
Prezada Professora Solange Ximenes,
Obrigado por ter apresentado reflexões condizentes com o nível que o debate acadêmico requer. Felicito-a por não ter apelado para a desqualificação pessoal do oponente como outros fizeram.
No entanto, a senhora minimiza a questão que levantei ao defender que não se trata de um problema local, mas estrutural de todo o país.
Pelo que sei nas universidades federais do nordeste e do centro sul do país, as vagas para os cursos de licenciaturas, apesar da baixa concorrência, estão quase sempre totalmente preenchidas.
Em outra direção a senhora parece-me seduzida pelos encantos do ENEN ao afirmar que “através de eixos cognitivos avalia a apreensão de objetos de
conhecimento das matrizes de referência do exame. As matrizes de
referência são: ciências da natureza e suas tecnologias; ciências
humanas e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; linguagens,
códigos e suas tecnologias. O ENEM em si já apresenta um desafio aos
professores do ensino médio uma vez que o aluno não tem que dar respostas
mecânicas às questões colocadas, mas tem que dominar linguagens,
compreender fenômenos, enfrentar situações-problema, construir
argumentações e elaborar propostas”.
Pura retórica por parte do MEC. Como educador aprendi ser quase impossível uma prova de múltipla escolha não representar, em última instância, uma busca mecânica pela verdade.
Em outro trecho afirma que “na UFOPA foram matriculados os alunos com as melhores notas do ENEM (777.58 a maior média e 576.96 a menor média)”.
Neste particular relembro que precisamos de mais de dez chamadas para preencher as 1150 vagas disponíveis para ingresso via ENEN e que decorrente destas inúmeras chamadas (que, registre-se, não foram extensíveis aos indígenas) a média 600 pode ser considerada baixa para ingresso em uma universidade publica federal.
Quanto aos números que a senhora aponta no trecho “No antigo Campus da UFPA de Santarém houve anos em que ingressaram nas
licenciaturas muito menos alunos que o número de vagas oferecidas. Veja o
exemplo do próprio curso de pedagogia em 2007 no qual foram aprovados
apenas 11 alunos das cinquenta vagas oferecidas e dos cursos de química e
física nos anos 90 do século XX em que havia vestibulares que aprovavam 3
alunos”. Por acaso, nos anos citados pela senhora o ICED ficou com 54% das vagas sem preenchimento?
Vislumbro que nos próximos anos ocorrerá a mesma sobra de vagas no ICED, ou talvez maior. Isto porque, repito, no modelo em implantação ingressará na UFOPA mais alunos que desejam as carreiras mais concorridas. É inevitável que estes se preparem mais do que os candidatos as carreiras menos concorridas. Imagine que a UFOPA oferecesse a carreira de Medicina. Do total de vagas oferecidas um grande percentual seria preenchida por candidatos a esta carreira e, por conseguinte, diminuiria mais ainda os ingressantes que, por opção, e não por falta de opção, desejam a carreira do magistério.
Aqui gostaria de reforçar um ponto: não estou questionando o modelo acadêmico em implantação (o fundamento interdisciplinar e as licenciaturas integradas), mas o modelo de progressão acadêmica. Este me parece equivocado, pelo menos para a formação de professores. Diante deste modelo é inevitável que as carreiras menos concorridas fiquem com menos alunos. Porém, neste caso, as carreiras menos concorridas são justamente aquelas que formam professores. Sendo assim o modelo de progressão acadêmica prejudica um dos pilares de uma nação.
Por último, gostaria de comentar sua reflexão final que diz “[…] vale então a pena lembrar que o ICED da UFOPA possui 84 professores, dos quais 29 são
doutores e 48 mestres. Com um conjunto de docentes deste porte não há
porque duvidar que daqui a alguns anos teremos formado os melhores
professores da região porque acredita-se que o quê o professor
universitário faz na sala de aula contribui para determinar o perfil do
profissional que ele formará (LORTIE, 1988)” É uma visão estreita acreditar que ter 29 doutores e 48 mestres garante uma formação de qualidade. É preciso que eles tenham tempo de pesquisar, orientar trabalhos, participar de eventos, projetos de extensão, etc., no entanto, com a carga horária de sala de aula que a administração que a senhora participa está impondo sobre os docentes, fica muito difícil atingir essa tão sonhada formação de qualidade que romanticamente traz a tona.
“No campo educacional toda reforma e/ou inovação é lenta
e dá-nos a impressão de que se caminha com “botas de chumbo” e em algumas andamos para trás.
Atenciosamente,
Gilberto César Lopes Rodrigues
Percebemos que, infelizmente, ocorre na UFOPA o que ocorre no Brasil todo, é a falta de professores, falta de pessoas interessadas a ingressar no magistério.
A UFOPA tem o maior nº de alunos que estão se formando como professores pela política governamental PARFOR, que atende professores de Santarém e de demais municípios circunvizinhos.
Gostaria que o prof. da matéria e demais leitores pudessem acessar à CAPES ou outros estudos e lerem vários documentos que refletem a preocupação de falta de professores a serem formados no Brasil. Há um défict enorme. Há poucos professores hj, antes do modelo da UFOPA, de física, de biologia, de matemática, basta irem nas escolas do Estado e perceberem a falta deles. E a UFOPA só tem um ano, mas o problema CITADO pelo prof. Gilberto revela uma questão bem maior sobre a educação e formação em nosso País, revela a falta de professores a serem formados, e isso não é mérito ou demérito da UFOPA, é reflexo infelizmente de toda uma história em nosso País de desvalorização da carreira do magistério.
Convido a todos e em especial o prof. da matéria, em qualificar melhor a discussão, e refletir no âmago da questão, que não é a UFOPA( claro que tbm devamos refletir sobre o modelo de progressão), mas não é ele que está provocando a falta de professores no Brasil todo.
Abs