Foto: Ércio Bemerguy

Laurimar Leal e o seu auto-retrato
de Paulo Lima (*)
Assisti ao documentário Laurimar e Outras Lendas, de Bob Barbosa, Chico Caprario e Miguel Angelo. Fiquei muito bem impressionado com a condução do papo com o Laurimar e com a sensação de quanto podemos ser egoístas e injustos com aqueles que se doam a certas causas.
Laurimar Leal é uma trajetória completamente singular e incompreendida. Parece ser um incômodo necessário àqueles que tem de se responsabilizar pela cultura do município e uma peça de decoração histórica, tal qual aquelas que ele conhece de cor e zela por sua preservação no Museu João Fona.
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Grande conhecer da Mina, da Umbanda, criou belíssimas esculturas para vários orixás e as conhece uma a uma, apesar de suas severas limitações visuais. Com sua voz ainda forte e afinada, lembra de memória os cânticos para cada cerimônia, e foi aquele que abriu as portas para a celebração das religiões africanas na cidade.
Cidade que se sempre reage de forma conservadora e refratária ao falar desses temas, como se seguir outras religiões não fosse assegurado a todo cidadão como um direito. Mas Laurimar é mais que isso. Seu conhecimento e capacidade de sair de um tema para outro surpreende e encanta.
Frágil fisicamente, tem na cultura e na inteligência sua arma de resistência. Certamente muitos santarenos não sabem que várias esculturas das Praça São Sebastião ou o da Praça da Liberdade são de sua autoria. E com certeza não sabem que o Laurimar somente pedia o material para as autoridades locais e não era remunerado para realizar seus trabalhos que hoje marcam a cidade.
A história não é só para ser escrita depois que perdemos nossos símbolos, nossas referências. Santarém tem em Laurimar Leal uma entidade — para brincar com sua religiosidade — que precisa ser reconhecida agora, em vida e não depois, fazendo de sua trajetória um memorial para ser pouco visitado.
É preciso encarar a realidade de abandono que vive Laurimar. Os documentaristas que na verdade vinham fazer um trabalho sobre a Dona Dica Frazão, inviabilizado por questões de saúde dela, encontraram em Laurimar um personagem vivo, sobre os quais a gente só conhece a história quando mortos. E eles deram essa contribuição. Mostram a quem quiser que Laurimar está largado, abandonado numa casa sem condições mínimas de habitação, ainda mais para uma pessoa na sua idade e com suas dificuldades.
Não adianta dizer que ele tem um emprego no museu e que assim a cidade – prefiro dizer cidade para incluir as pessoas, a sociedade e não só responsabilizar a prefeitura – mostra o quanto gosta dele. É preciso mais, é preciso ser generoso com quem tanto de sua vida dedicou à arte e à cidade, à formação de outros artistas, como o Apolinário e tantos que aprenderam com ele.
É preciso participar com solidariedade do enfrentamento dessa situação. O que seria para algumas famílias que hoje contam com recursos para investir em obras de duvidoso valor artístico, apoiar a reforma e adaptação da casa do Laurimar?
Arquitetos e grandes empresas de materiais de construção prósperas nós temos, agora temos é que assumir uma visão renovada de responsabilidade social. E mais que dizer que a alguém é culpado, que o sistema previdenciário é ruim ou alguma outra desculpa, é preciso assumir o problema.
Santarenos que todos os dias tem o gosto de ver a arte de Laurimar Leal nas ruas, nas repartições públicas e em algumas casas podem, se quiserem, fazer as pazes com a cultura e dar condições de vida mais dignas para nossa principal referência no campo das artes plásticas.
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* É professor universitário, e santareno “naturalizado”.
Quem foi Sergio Hehn para Santarém, provalvelmente um trabalhador e morador como tantos da cidade, nada contra o mesmo e nem contra a familia, mas merecer o nome de uma avenida em Santarém, é contraditório diante de uma personalidades do tamanho de Laurimar Leal.
De qualquer forma, penso que o mais urgente é dar uma vida mais digna e merecedora para este cidadão que tanto fez Santarém brilhar e ter uma cultura acima da média. Lembrei-me agora, neste exato momento daquelas baianas belissimas no carnaval de Santarém, todos na avenida. Ficávamos girando a cabeça, na ponta dos pés diante da mutidão e perguntando a todo momento para a minha mãe, cadê, já vem descendo a ala das baianas, heim mãe? quando chegavam, nossos olhos brilhavam de encantamento, era muito lindo tudo aquilo, além de inovador e arrebatador!
E a praça de São Sebastião, a caminho do CDA, também lembro dele na praça fazendo as esculturas da cultura tapajônica?
Viva Laurimar Leal
Jeso, A Tânia, minha irmã, fez uma uma performance de Carmem Miranda no colégio Dom Amando, se não me falha a memória, foi o Laurimar que fez a roupa dela, que foi aplaudida de pé no teatro do colégio, lembro de estar com a Tânia em vários momentos desta concepção, e ele humildemente deu a mair força. Vou pedir pra ela te enviar uma foto, só acho que ela vai me matar….rssss…mas como também admira muito o Laurimar, não vai se recusar!
Telma Amazonas
Já estou o aguardo da foto, Telma. Mande sim.
ops, evidentementemente que o Laurimar Leal não é o “cocô do cavalo do bandido” … rsrsrsrs
Menos !!! Menos !!! Nem o Laurimar é o “cavalo do cocô do bandido” como ele diz que é tratado (e que muitos acreditam) pelo governo que bem ou mal o acolheu, nem muito menos é o supra-sumo das artes santarenas (embora seja muito bom), assim como não o são algumas de suas crias, que se acham o máximo, alcunhando-se de artistas plásticos, apenas por borrarem algumas telas. Ele é um bom artista, um artista multi-mídia, quando ainda nem se usava esse termo, mas é extremamente personalista, e usa de sua atual condição de saúde para impressionar e até achacar as pessoas que visitam o museu. (um amigo meu que visitou aquele espaço cultural por indicação minha e na minha companhia, viu-se compelido, após ouvir toda a “peroração coitadinha” do Laurimar Leal a deixar uma contribuição no livro de visitantes do Museu, a título não sei de que (talvez para comprar uma lâmpada, como agora… )
Regiane, artista não pode comer feijão e soltar pum? Cuidado, teu espírito pode ser um arroto, hum hum hum, ou pum de feijão?
Menos Regina, menos. A que deus vc se refere: ao seu ou ao do bento 16? O caminho para Deus passa pelo coração do homem. Se o velho Laurimba não se valorizar, quem o valorizará? E vc tem alguma coisa contra a leguminosa?
Namastê!
Sinceramente, tenho respeito pelo Laurimar mas acho ele muito pretencioso. Um dia vi uma declaração dele dizendo que os santarenos deviam se curvar ao vê-lo..Modéstia é a palavra da vida dele e de uma certa artesã da mesma idade ou quase. Eles não têm um pingo de humildade. Me poupe eu ter que me curvar pra um comedor de feijão. Só uma pessoa merece tal reverência DEUS, a Ele sim toda Honra e Glória!!!!
Gente quando eu falo”comedor de feijão” quero dizer que se trata de uma pessoa como qualquer outra. Muito me angustia saber que somos culpados por não valorizar a prata da casa, mas pensem comigo essas pessoa já tiveram seus momentos de glória na história santarena e foram recompensados por isso e muito bem. Agora levarmos sempre a culpa de tudo é demais.
EU NUNCA VI ALGUÉM FALAR TANTA BESTEIRA! MINHA FILHA, QUE TAL SAIR UM POUCO DE SEU EGOÍSMO E DE SUA IGNORÂNCIA?
Santarém tem zona e não costa! Tem tantos no anonimato, eu não sou admirador do Laurimar, vejo que há outros melhores que ele, é minha opinião.
Bem colocado Paulo,
Mas eu diria que Santarém sempre deu as costa ao Laurimar Leal.
Assim como a todos seus demais artistas.
Assim como a todos seus “simbolos” culturais.
Assim como a toda a sua história.
Assim como ao pouco que sobrou do seu patrimônio historico-cultural, irremediavelmente na maior degradação e caindo em pedaços.
Laurimar se vai junto com eles.
Santarém está perdendo (ou já perdeu?) sua memória.
E a Santarém de hoje? O que seria?
Alguém sabe dizer?
Sorte nossa que o Cristovam Sena ainda consegue manter seu arquivo vivo em dia.
Parabéns a esse grande artista.
LAURIMAR LEAL
“Santarem, NÃO. o Poder Publico, os homens do poder, esses sim, SANTAREM, não. …”
Como Santarém não?
Por um acaso é só o ‘poder público’ que faz cultura aqui?
Por um acaso é só o ‘poder público’ (e seus ‘homens do poder’) que moram aqui?
Por um acaso é só o ‘poder público’ que escreve e faz parte da história daqui?
Onde estas fazendo jus ao teu codinome, ‘observador’?
De que adianta ele ser reverenciado só por hipocrisia?
Para Seu Laurimar, era pra ser criado, no mínimo, um espaço cultural com seu nome, algo dedicado a ele, às suas obras.
Mas Santarém esta preferindo dar valor às loucuras de uns e outros ao que realmente interessa dar para que seu brilho jamais seja ofuscado.
NÃO SEI QUANTO A VOCE, MAS TUDO O QUE EU FALEI DE LAURIMAR LEAL, QUE PESSOALMENTE CONHEÇO, NÃO FOI E NUNCA SERA HIPOCRISIA.
E REITERO, SANTAREM NÃO, O PODER PUBLICO SIM, ASSIM COMO ESQUEÇEU DE TANTOS OUTROS, QUE NEM NOME DE PRAÇA OU RUA VIRARAM.
E SIM, O PODER PUBLICO, E QUEM TEM OBRIGAÇÃO DE FAZER VULTURA, EMBORA O POVO VIVA A CULTURA, E CULTIVE A CADA DOA SEUS CUSTUMES E TRADIÇOES, E O PODER PUBLICO QUE TEM QUE PROMOVER O BEM COMUM.
HIPOCRISIA E ESQUECER A OBRA E O TALENTO, NÃO DE LAURIMAR LEAL, QUE ESTA VIVO, MAS DE TANTOS OUTROS, QUE HOJE NEM SAUDADE SÃO.
Santarem, NÃO. o Poder Publico, os homens do poder, esses sim, SANTAREM, não. Laurimar Leal, com seu brilhantismo, e respeitado pelos seus patricios, tanto que aqui neste espaço, vem sendo reverenciado. Corrija sua afirmação, SANTAREM NÃO, o poder publico, SIM.
Salve Jeso,
Antes que falem que eu não proponho nada, a primeira coisa que me parece importante é que a gente consiga a exibição na TV Aberta de Santarém. Fazendo uma boa divulgação e que as pessoas possam ver o documentário. Tem gente da imprensa falando do documentário sem ter visto. Eu já tenho a autorização dos autores para a exibição na TV aberta agora é saber quem vai abrir o espaço. Só assim a gente vai realmente conseguir uma mobilização cidadã que possa reverter a qualidade de vida do Laurimar.
Fábio, sobre a distribuição de cópias do documentário estou consultando os autores para ver a melhor forma possível.
Paulo entre em contato comigo na TV Ponta Negra que estamos dispostos a exibir o documentário desse gigante da Cultura do Pará, será uma honra e um privilégio.
aliás, parabéns pela idéia.
Edy Portela.
Concordo ipsis litteris com você, PL.
No primeiro dia do ano, resolvi andar pela cidade e fui parar no museu. Lá estava ele, sentado, aguardando turistas para mais uma de suas palestras histórico-arqueológicas. Do alto de sua cegueira, Laurimar enxerga mais longe que todos. Ressabiado, não deixa de espetar o administrador de plantão, pois seu partido é a cultura tão desprezada por todos nós.
Me sussurrava nos ouvidos: “estou ficando sem auxiliares, estão demitindo meu pessoal sem fazer reposição”. O Centro Cultural João Fona vai acabar ficando com apenas um abnegado servidor, o velho Laurimar de guerra… Será que a secretária Jarles Aguiar não tem como estancar a sangria e evitar que um de nossos cartões postais seja um espaço fantasma??
Outro dia fui testemunha do descontentamento de Laurimar diante do esquecimento e falta de respeito dos cidadaos santarenos com o artista plástico, cego, esquecido, mas de um maravilhoso potencial para registros históricos de Santarém. Ainda há tempo de revermos essa situação e valorizar aqueles que marcam a história de santarém de forma positiva.
Perfeito, Paulo!
Conheci o Laurimar recentemente e fiquei encantado e impressionado com ele. Uma pessoa que distribui o conhecimento sobre as coisas da região com uma generosidade muito tocante. Toda conversa que tive com ele é um prazer e uma aula. É um cara que merece receber tudo de bom da cidade.
Lembrei agora do Mestre Verequete em Belém – Quando da votação pelo pagamento de uma pensão para ele, alguns deputados falaram indignados na tribuna, pois o dinheiro iria para um “macumbeiro” (!!!!). Argh — é típico o que fazemos com nossos mestres mesmo.
E mais uma coisa: onde viste o video? Tô doido pra ver. Semana passada falei com o Laurimar e ele me perguntou qual vídeo sobre ele tinha ganhado um premio e tals. Ele não sabia qual era, não sei se agora já sabe. Era bom fazer uma cópia pra ele.
Abraço!
Volto a falar, probreza não é sinônimo de sujeira, mora uma senhora com ele, porque ela não limpa a casa, pergunta que não quer calar?????? No resto concordo, mais higiêne é fundamental na nossa vida!!!!
E lamentável o que estão fazendo com o Laurimar , pois foi ou é um artista que tanto fez ou ainda faz por Santarém